• 25 de novembro de 2020
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Geração solar e eólica irá ultrapassar gás e carvão até 2024

O mais recente relatório da IEA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês), divulgado na semana passada, prevê que a capacidade de geração de energia solar e eólica irá dobrar nos próximos cinco anos globalmente e superar a de gás e carvão mineral.



A agência intergovernamental estima que ocorrerá um aumento de 1.123 gigawatts (GW) na energia eólica e solar, o que significaria que essas fontes de energia ultrapassariam a capacidade instalada de gás em 2023 e a de carvão em 2024. O crescimento contínuo do setor prevê ainda que as fontes renováveis, incluindo hidrelétricas e bioenergia, substituirão o carvão como a maior fonte de energia do mundo em 2025, diz o relatório da IEA.



O documento surpreendeu positivamente pesquisadores climáticos, já que, segundo site Carbon Brief, no ano anterior a IEA havia indicado que essa mudança em cinco anos era pouco provável e possível somente nas previsões mais otimistas. No relatório deste ano, o cenário é considerado o menos ambicioso.



Os autores do documento atribuem a mudança a dois principais fatores. O primeiro é a pandemia causada pelo novo coronavírus, que, além de alterar os padrões de consumo de energia – a demanda global caiu 5% em 2020 -, acelerou o fechamento das usinas de carvão mais antigas. De acordo com o IEA, enquanto os combustíveis fósseis enfrentaram dificuldades por causa da Covid-19, o mercado de energias renováveis provou ser “mais resiliente do que se pensava”. A estimativa é que a energia solar, hídrica, eólica e por biomassa aumente 7% neste ano. O segundo fator é o contínuo investimento que se têm feito na área e que, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, não deixou de contribuir para a queda nos custos e para o crescimento do setor.



“É um alento observar que o mundo está indo na direção correta, apesar de alguns países como Estados Unidos e Brasil estarem indo na direção contrária”, afirma Paulo Artaxo, professor do instituto de física da Universidade de São Paulo (USP).



De acordo com o pesquisador, diferentemente de nações que estão investindo de forma intensa no setor, o Brasil possui um grande potencial para geração de energia solar e eólica, porém ainda muito inexplorado. Esse atraso na adoção de medidas que incentivem a geração de energias por fontes renováveis, somado ao aumento no número de queimadas, está deixando o país cada vez mais longe de cumprir a meta nacional do Acordo de Paris.



De acordo com o mais recente relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), o país ocupa hoje a sexta posição entre os maiores poluidores climáticos do mundo – subindo para quinto lugar quando se exclui a União Europeia.



Artaxo destaca ainda que, apesar do cenário positivo apresentado no relatório da IEA, o setor de energias renováveis precisa superar alguns desafios tecnológicos para se consolidar como principal fonte de energia globalmente. “Energias solares e eólicas ainda tem problemas com a questão da intermitência. É preciso que se continue investindo no desenvolvimento de tecnologias para o armazenamento dessa energia. É algo que está avançando, mas ainda é um problema a ser resolvido”, explica.



Em relação aos outros grandes poluidores globais, como Estados Unidos e China, o relatório do IEA destaca que, por mais otimista que seja o cenário, ele ainda depende de uma constante atualização nas políticas de investimento no setor. Tanto os subsídios à energia eólica e solar na China quanto os créditos fiscais de produção nos Estados Unidos estão chegando ao fim e necessitam ser atualizados. “As energias renováveis são resilientes à crise da Covid-19, mas não às incertezas políticas”, afirmou o direto executivo da IEA, Fatih Birol, ao Carbon Brief.



O documento provavelmente foi concluído antes das eleições americanas. Com a vitória do democrata Joe Biden, o setor ganha a promessa de um novo impulso. Durante a campanha e após sua vitória, Biden afirmou que recolocará os Estados Unidos no Acordo de Paris menos de 24 horas após tomar posse da presidência e apresentou um plano de investir pelo menos US$ 2 trilhões em ações para descarbonizar a geração de energia do país até 2035.


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