A estimativa é da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que indica ainda que esta será a década mais quente já registrada; relatório destaca eventos extremos no Brasil
O ano de 2020 se encaminha para entrar na história como um dos três mais quentes desde que o registro começou a ser feito, em 1850. E isso apesar de uma pandemia de coronavírus que derrubou a atividade econômica (e as emissões de carbono) e de um evento La Niña que, em tese, deveria ter resfriado o mundo.
A estimativa, realizada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), foi divulgada nesta quarta-feira (2) em seu relatório prévio anual. O documento, que faz referências a diversos extremos climáticos no Brasil este ano, indica ainda que a década de 2011 a 2020 deve ser a mais quente registrada.
De acordo com o documento, que se baseia em contribuições de dezenas de organizações internacionais e especialistas, o planeta já esquentou 1,2oC acima da média verificada na era pré-industrial – aproximando-se do limite de 1,5oC estabelecido no Acordo de Paris para evitar os piores efeitos da crise do clima.
Nem a pandemia foi capaz de mudar a tendência de aquecimento do planeta. As concentrações de gases-estufa continuaram a subir ao longo do ano – ultrapassando 410 partes por milhão em 2019, 48% a mais que a média pré-industrial – e o calor do oceano está em níveis recordes, sendo que mais de 80% dos mares experimentaram alguma onda de calor durante 2020, com repercussões generalizadas para os ecossistemas marinhos, que já sofrem com águas mais ácidas devido à absorção de dióxido de carbono (CO2).
“Anos recordes de calor costumam coincidir com o evento El Niño, como foi o caso em 2016. Estamos agora passando por um La Niña, que tem um efeito de resfriamento nas temperaturas globais, mas que não foi suficiente. Apesar das condições atuais do La Niña, este ano já mostrou um calor quase recorde comparável ao recorde anterior, de 2016”, afirmou em comunicado o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
O relatório mostra ainda como eventos de alto impacto, incluindo calor extremo, temporada recorde de furacões no Atlântico (30 tempestades nomeadas), incêndios florestais inclusive no Ártico – que viu os termômetros baterem 38oC na Sibéria acima do círculo polar – e inundações afetaram milhões de pessoas ao longo de 2020 em todo o planeta, levando ao deslocamento de populações em massa e prejudicando a segurança alimentar de muitas comunidades.
O Brasil teve destaque no relatório. A OMM lembra que 2020 começou com chuvas mortíferas em Belo Horizonte, que viu em 24 de janeiro (alguém se lembra?) a maior chuva de sua história: 172 milímetros. Também destacou a onda de calor em setembro e outubro, que provocou o recorde de temperatura em Nova Maringá (MT) de 44,6oC e recordes históricos de temperatura em Cuiabá, Cutitiba e Belo Horizonte. O agronegócio brasileiro levou US$ 3 bilhões em prejuízo por conta da estiagem, prossegue o relatório.
O documento provisório do Estado do Clima Global para 2020 é baseado em dados de temperatura de janeiro a outubro. O relatório final desde ano será publicado em março de 2021.