• 06 de março de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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A carne artificial, o fim dos rebanhos e o meu tomate sem agrotóxico

Ok! A notícia é que um tal de doutor Mark Post, da Universidade de Eindhoven, na Holanda, conseguiu criar carne em laboratório. Ainda não é aquele bifão gordo e suculento que os fãs do churrasco adoram. Na verdade, os bifinhos, se é que podemos chamá-los assim, não passam de pequenas folhas de 3 centímetros de comprimento, 1,5 centímetro de largura e 0,5 milímetro de profundidade. Um selo comemorativo qualquer deve ter mais massa do que isso. Para se fazer um hambúrguer digno de qualquer uma dessas redes de fast food, por exemplo, seriam precisos cerca de três mil unidades dessas coisinhas. E mesmo não havendo ainda estudo sobre a capacidade humana de digestão desse novo alimento, já sei que ele não cairia nada bem. O preço dessa guloseima é estimado em cerca de R$ 600 mil (isso sem contar o pãozinho, a maionese e a alface). Nunca antes na história deste planeta a expressão “preço salgado” encontrou ocasião que lhe caísse tão bem.

Mas para ser bem honesto, não foi a fileira de zeros que mais me intrigou, até porque a famosa “escala industrial” poderia muito bem dar conta disso. O que me deixou confuso mesmo foi a afirmação de que até vegetarianos poderiam comer esse tipo de carne.

A justificativa é que uma vez não tendo que matar o animal, já que uma simples biópsia poderia retirar as células-troncos necessárias para se criar a carne de laboratório, estaria tudo bem.

Será?

A questão vegetariana vai além da matança animal. Talvez a morte seja o ponto mais cruel da alimentação carnívora, mas há um segmento do vegetarianismo que leva em conta também a escravização dos bichos. E nesse sentido, ainda seriam precisos “escravos” para oferecer suas células para a criação da carne artificial.

Por outro lado, caso o experimento se torne economicamente viável, pode ser que se acabe ou diminua drasticamente com os rebanhos comerciais no mundo. Isto, em teoria, proporcionaria mais terras livres para se plantar e reflorestar, diminuiria o consumo indireto de água e também haveria um corte gigante na emissão de gás metano pelos animais e de CO2 pelo desmatamento irregular.

É uma questão complicada, que ainda precisa de muito debate, inclusive moral. Enquanto isso, eu, ovolactovegetariano que sou, continuarei dando preferência aos meus tomates orgânicos.

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