A ecomobilidade ganha terreno
Cidades de todo o mundo se aventuram em um território novo, a “ecomobilidade”, ou mobilidade sustentável: o transporte sem veículos particulares.
Changwon, Coreia do Sul, 31 de outubro de 2011 (Terramérica).- Berlim é uma grande capital de um país famoso por seus excelentes automóveis, mas já não suporta a manutenção das ruas, e seus habitantes usam cada vez mais o transporte público, a bicicleta e, sobretudo, seus próprios pés. Berlim não é a única. Paris, Tóquio, Seul, Bogotá, Nova York e outras grandes cidades não podem enfrentar os custos, a poluição, o ruído e o congestionamento de mais e mais automóveis. E estão explorando um território novo, a “ecomobilidade”, ou mobilidade sustentável: o transporte sem veículos particulares.
“A ecomobilidade não é apenas caminhar, pedalar ou usar o transporte público. Trata-se de esses sistemas funcionarem juntos: a chave é conectividade”, explicou o colombiano Guillermo Peñalosa, ex-diretor de parques e recreação de Bogotá, aos presentes no congresso EcoMobility Changwon 2011, realizado este mês nesta cidade da costa sudeste da Coreia do Sul. O Congresso Mundial sobre Mobilidade para o Futuro de Cidades Sustentáveis foi organizado pela prefeitura desta cidade e por Governos Locais pela Sustentabilidade, uma aliança de autoridades de mais de 1.220 cidades de 70 países.
“A famosa Times Square de Nova York agora é um calçadão para pedestres. Quem teria pensado nisso há três anos?”, pergunta Guillermo ao Terramérica. “E, só há cinco anos, quem teria pensado que Paris teria mais de 22 mil bicicletas compartilhadas graças a esse sistema de grande sucesso?”, acrescentou Guillermo, diretor-executivo da 8-80 Cities, uma organização não governamental de Toronto, no Canadá, que promove a caminhada, o ciclismo e as trilhas e parques urbanos como formas de melhorar a vida nas cidades. “Temos que construir as cidades em torno das pessoas e não dos carros”.
Segundo a ecomobilidade, as pessoas e os bens podem ser transportados em zonas urbanas com uma combinação de meios: desde caminhar e pedalar até usar bicicletas elétricas, patins de rodas, transporte público e veículos elétricos leves. A ideia é buscar formas mais baratas, efetivas e sustentáveis de transporte. “As cidades devem se preocupar mais em mover as pessoas do que em mover os veículos”, disse o prefeito da australiana Adelaide, Stephen Yarwood.
Na verdade, os carros não são muito bons para transportar pessoas. Uma rua comum de qualquer cidade, com 3,5 metros de largura, suporta a passagem de até duas mil pessoas em automóveis por hora. Pela mesma via, e no mesmo tempo, podem passar 14 mil ciclistas e 19 mil pedestres. Um trem rápido nesse mesmo espaço poderia transportar 22 mil pessoas, e duas pistas de ônibus de trânsito rápido levariam 43 mil passageiros, disse Manfred Breithaupt, diretor do Projeto Transporte Urbano Sustentável, uma organização não governamental alemã.
O transporte automotivo é responsável por lançar na atmosfera entre 25% e 30% dos gases causadores do efeito estufa. Entre os meios de transporte, os carros e as motocicletas são de longe a maior fonte de dióxido de carbono por quilômetro por pessoa, destacou Manfred. Caminhar ou andar de bicicleta não produz gases-estufa. Conseguir que as pessoas abandonem seus carros é um enorme desafio.
Em primeiro lugar, pela interminável e multimilionária publicidade da indústria automotiva, que massacra os consumidores com a ideia de que comprar um automóvel é o caminho mais rápido para o sucesso, o prestígio e outras bobagens, afirmou Manfred. “As montadoras atacam o transporte público com seus anúncios. Alguém me contou que em seu país uma publicidade sugere que viajar de metrô tem certo tipo de “fedor subterrâneo”, acrescentou.
Na América do Norte, o custo de ter e usar um carro varia entre US$ 8 mil e US$ 12 mil por ano, segundo os clubes de automobilistas. Isto pode representar entre 25% e 50% da renda anual de uma família média, e ilustra até que ponto tem êxito a publicidade. “Por qual outro motivo gastaríamos 20 vezes mais do que o necessário para nos locomover?”, questionou Guillermo. Esta realidade está mudando na Alemanha. “Mais de 80% dos jovens não sentem necessidade de ter um carro”, disse Bernhard Ensink, secretário-geral da Federação Europeia de Ciclistas, com sede em Bruxelas.
A propriedade de veículos particulares na Alemanha e em outros países europeus está caindo lentamente, porque existem meios mais simples e baratos. A mobilidade é também uma questão moral, segundo Bernhard. “Quem suporta os impactos negativos dos automóveis? Jamais os motoristas, e sim o restante do público, em especial os pedestres pobres que vivem em cidades feitas para circulação em carros”, argumentou. Por exemplo, os acidentes de trânsito nos quais morrem diariamente milhares de pedestres e ciclistas em todo o mundo. Esta é a primeira causa mundial de mortes entre jovens de 15 a 29 anos.
No entanto, adotar a ideia da ecomobilidade é difícil, disse Yeom Tae Young, prefeito de Suwon, cidade próxima a Seul. “Os cidadãos devem conhecê-la, e os compromissos do governo devem ser claros”, afirmou o funcionário aos participantes do congresso. Suwon, uma antiquíssima cidade, com pouco mais de um milhão de habitantes, compete com Changwon na corrida para ser a mais verde e de menor pegada de carbono da Coreia do Sul. Nem todos aceitarão os inconvenientes, mas o público apoiará as mudanças se entender que são por um bem maior. “Não podemos fechar os olhos ao desafio da mudança climática”, concluiu.