• 02 de julho de 2014
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
  • 1741

A natureza chora

Quando decidi escrever este artigo, fiz uma breve pesquisa na Internet e encontrei mais de 835 mil resultados para a frase: “as chuvas castigam”. Castiga quem, cara pálida? Vivemos numa cidade onde um chuvisco já é motivo de enchente, inundações, problemas na rede elétrica, portanto, nos semáforos e gerando trânsito intenso.

A imprensa “noticia” todos os anos, a cada período chuvoso (normalmente, no verão), que as chuvas “castigam” os moradores de uma determinada região.” E olha que neste ano nem tivemos tanta chuva assim em algumas cidades brasileiras.

Esta informação não é verdadeira. As chuvas não castigam ninguém. As pessoas ocupam as áreas de risco nas cidades, os topos de morro, as áreas de várzea, tudo sem o menor critério, rigor e fiscalização dos órgãos competentes. Depois de invadidas, já se torna mais difícil tirar (desfazer, nome técnico) moradias irregulares nesses locais de risco. As pessoas, na maioria das vezes, são motivadas por um “líder” com pretensão eleitoreira. As promessas são do tipo: “A gente ocupa e resiste! Depois eles (o governo) têm que levar água e luz. Depois asfalta a nossa rua e pronto, já somos mais um bairro. Tem que ocupar e resistir.”

Honestamente, não sou contra. Desde que essas ocupações se deem em locais adequados. A atitude mais comum para com as famílias é levá-las (como boiadas) a ocupar áreas de risco de vida. Então, assim que cair a primeira chuva, as famílias e as suas casas começam a ter as experiências de risco e perda de bens. Nessa hora, onde está o suposto líder que ofereceu o local para aquelas pessoas? Já vi isso com os meus próprios olhos.

Mas vamos tocando o texto porque pretendo falar sobre o teor deste artigo: a natureza chora. E quando ela chora (ou chove), pra onde vai toda a água? As ruas estão totalmente cimentadas! Dificilmente vamos encontrar ruas com calçadas ou ruas permeáveis. A maioria das cidades está optando, obsessivamente, por asfalto. Tirando os velhos e fortes paralelepípedos das ruas, como se mantê-los representasse um atraso. Os rios, lagos e córregos estão cobertos! Estamos vivendo um momento de seca nos reservatórios jamais visto em São Paulo. Por outro lado, no norte do país, famílias estão perdendo suas casas devido às inundações nos rios e reservatórios. Temos um bom exemplo na cidade de Osasco, onde a Secretaria de Meio Ambiente tem o Programa Municipal de Preservação e Conservação das Nascentes. Lá, quando uma nascente é encontrada, são tomadas iniciativas para ser preservada rapidamente. Esses bons exemplos podem ser usados pelo Brasil afora. Não são caros. Basta cercar a nascente, colocar uma placa e manter acesa a chama da esperança.

Mas vivemos num país onde a mentalidade de quem administra o País, os estados e municípios está atrasada demais. O pensamento de quem governa está mais para as questões econômicas e sociais. O aspecto ambiental se traduz ainda como fonte infinita de uso e riqueza, assim como um tema para ser acrescido nos discursos eleitorais.

Enquanto isso, a natureza vai continuar chorando. Seja com chuva ou mesmo com aquela plantinha que nasce entre os cimentos. Mas vamos pedir a Deus que cuide daqueles que habitam em áreas de risco ou em áreas de inundações e enchentes. E a natureza chora as dores de parto por haver governantes que sequer têm os cuidados básicos com as nossas riquezas naturais, como a água, o assunto “da moda”. Desviar o curso de rios ou mesmo enterrá-los é uma agressão e, por consequência, estamos pagando caro nas grandes cidades urbanizadas.

* Jetro Menezes é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É gestor e auditor ambiental, especialista em Saneamento Ambiental. Respnsável pela Jetro Ambiental Consultoria (www.jetroambiental.eco.br). Foi coordenador do Programa de Coleta Seletiva da Prefeitura de São Paulo, ex-diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Franco da Rocha e atualmente é chefe de gabinete da Secretaria de Ambiente de Mariporã.

Empresas contempladas