• 25 de maio de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
  • 724

A onda verde da soja brasileira

Às margens do largo rio Tapajós, a cidade paraense de Santarém tornou-se o ponto de partida de uma onda que se espalhou por boa parte do Estado, a partir de 2004. Não foi um “tsunami fluvial”, mas uma onda verde nas lavouras e pastos da Amazônia.

Graças a uma parceria entre a TNC e a gigante mundial Cargill, Santarém recebeu um programa pioneiro de apoio à legalização ambiental dos produtores de soja, o Soja Responsável. A iniciativa tinha como meta garantir que todos os fornecedores da empresa naquele trecho da Amazônia estavam em dia com suas obrigações ambientais.

As ações adotadas em Santarém trouxeram resultados tão bons que serviram de referência para outro município paraense, Paragominas, onde foram ampliadas para fazendas de gado e de diversas culturas agrícolas. Mais uma vez, o modelo chamou atenção de produtores e governos, e se espalhou, até se transformar em política oficial de quase uma centena de municípios no Pará.

Agora, um novo acordo entre TNC e Cargill vai dar impulso a uma ampliação do programa Soja Responsável, tanto em Santarém quanto em outros pontos do país. Assim como na primeira onda, o objetivo da parceria é conciliar produção e preservação, de forma a criar modelos responsáveis de negócios, com potencial para “varrer” outras regiões, na extensa fronteira agrícola brasileira.

Investimento milionário

O combustível financeiro dessa ampliação virá da Cargill. A empresa anunciou, em agosto de 2011, uma doação de 3 milhões de dólares à TNC, para apoiar ações que protejam a Amazônia e o Cerrado, ao mesmo tempo em que ajudam produtores de soja a crescer de maneira responsável. Com o aporte, a TNC poderá:

1) Combater o desmatamento e avançar na adequação ambiental de propriedades, em escala muito maior

Histórico: A primeira fase do Soja Responsável consistiu em incluir 383 propriedades produtoras de soja, de Santarém e Belterra, no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Este é o passo inicial para a legalização ambiental de um imóvel rural. A partir das informações levantadas pelo CAR, a TNC e a Cargill passaram a monitorar o desmatamento ilegal, por meio de satélites.

Resultados já obtidos: Com o trabalho de monitoramento e apoio técnico junto aos produtores, o desmatamento ilegal nas propriedades incluídas no projeto caiu a praticamente zero.

O que vai avançar: Além de manter o monitoramento sobre os imóveis incluídos na primeira fase do projeto, a TNC poderá desenvolver projetos-piloto de recuperação e restauração de APPs (áreas de proteção permanente) e RLs (reservas legais). Esses projetos vão ajudar a organização a criar modelos de adequação ambiental para toda a região, colabroando para que os imóveis rurais dessa área obtenham o LAR (Licenciamento Ambiental Rural). Além disso, em uma ação complementar ao acordo com a Cargill, a TNC trabalhará com outros parceiros, para expandir a área rural de Santarém e Belterra incluída no CAR. Dessa forma, o trabalho de conservação começará a alcançar a escala de "paisagem produtiva", ou seja, de uma região inteira.

2) Levar a produção responsável de soja para Mato Grosso

Histórico: Na primeira fase do programa, a Cargill se comprometeu a comprar soja apenas de produtores que estivessem em dia com suas obrigações ambientais em Santarém. É uma forma de garantir o fornecimento responsável de soja, evitando que a expansão dessa cultura cause desmatamento.

Resultados já obtidos: Ao adotar a compra responsável, a Cargill criou um incentivo palpável e imediato para o respeito à legislação ambiental: quem cumpre a lei ganha mercado. A medida fortaleceu a cultura da responsabilidade ambiental, de uma ponta a outra da cadeia, em um dos cultivos mais importantes do agronegócio brasileiro.

O que vai avançar: O novo acordo permitirá que Cargill e TNC estendam a iniciativa de compra responsável para o norte de Mato Grosso. O projeto busca adiantar-se ao asfaltamento da rodovia BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, e que certamente criará pressão adicional sobre essas áreas. Historicamente, quando se asfalta ou amplia uma estrada no Brasil, eleva-se o risco de desmatamento em todo o entorno. Isso quer dizer que, nos municípios incluídos no programa, a Cargill comprará soja apenas de estiver em dia com suas obrigações ambientais, gerando uma “vacina” contra a tendência de destruição da floresta.

3) Estimular o uso racional da água e do solo

Histórico: Para iniciar o programa Soja Responsável, a TNC e a Cargill escolheram como prioridade o controle do desmatamento nas áreas de cultivo, como forma de reforçar a legislação ambiental e as políticas públicas de redução do impacto das lavouras de soja sobre o meio ambiente. Manter a vegetção em pé, porém, é só um dos critérios para assegurar o fornecimento responsável de soja ao mercado.

Resultados já obtidos: Ao inserir os produtores no CAR e mostrar os benefícios da produção responsável, o programa abriu as portas para outras boas práticas agrícolas.

O que vai avançar: Essa é uma das principais novidades. A TNC coordenará um projeto-piloto para testar, nos próximos três anos, novos indicadores de sustentabilidade em 25 propriedades da região de Santarém. Entre os impactos avaliados estarão o de uso de pesticidas e o da qualidade da água.

Das florestas da região deve surgir, ainda, um novo caminho para a restauração de terras degradadas no sul do Pará. TNC e Cargill estudam como estimular o uso do cacau em áreas dos municípios de Tucumã e São Félix do Xingu.

Nativo da Amazônia, o cacau representa um bom "restaurador", porque cresce mesmo à sombra da floresta e, portanto, permite que se mantenha a vegetação em pé, ao mesmo tempo em que oferece uma fonte de renda a pequenos agricultores. Afinal, uma onda verde só se espalha se contar com a força de quem melhor conhece os rios e terras da região, os moradores da Amazônia.

Empresas contempladas