Acordo de Durban pode fazer pouco para esfriar planeta em aquecimento
O mundo deverá ficar mais quente, o nível do mar subirá, um clima intenso causará ainda mais destruição e o novo acordo firmado por governos em Durban para cortar as emissões de gases do efeito estufa fará pouco para diminuir esse dano
Dados climáticos de agências da ONU indicam que a acumulação de gases que absorvem calor aumentará a tais níveis nos próximos oito anos – antes que o regime recém-firmado de cortes nas emissões entre em vigor – que o planeta caminhará para mudanças ambientais permanentes.
Países de todo o mundo concordaram no domingo em criar um novo acordo para forçar todos os maiores poluidores pela primeira vez a limitarem suas emissões de gases do efeito estufa em 2020. Mas críticos dizem que o plano foi tímido demais para reduzir o aquecimento global.
Para que um plano de redução tenha um impacto maior, analistas afirmam que o maior emissor do mundo, a China, precisa se desvincular de fontes de energia intensas em carvão que estão “asfixiando” o planeta com dióxido de carbono (CO2), e que países desenvolvidos precisam investir para mudar o mix de fontes de onde eles tiram energia.
Mas os especialistas veem pouca vontade política para implementar esses planos custosos e argumentam que o processo da ONU mostrou, em duas semanas de negociações na cidade sul-africana de Durban, que está saturado, falido e incapaz de efetuar uma mudança radical.
“O desafio é que começamos as negociações a partir do menor denominador comum de todas as aspirações das partes”, declarou Jennifer Haverkamp, diretora do programa climático internacional do Fundo de Defesa Ambiental, um grupo dos EUA que luta contra a poluição.
“Para que esse esforço tenha sucesso, os países precisam ser ambiciosos em seus compromissos e se recusar a usar essas negociações apenas como outra ferramenta de atraso”, disse ela.
Restrições políticas domésticas tornam improváveis as promessas em Durban para mais projetos verdes no mundo desenvolvido e a intensificação de auxílio para países em desenvolvimento terá problemas de realização pelo financiamento governamental da Europa, dos Estados Unidos e no Japão.
PROTOCOLO DE APOIO
Em cerca de 20 anos de negociações, o processo da ONU produziu um acordo obrigatório de corte de emissões, o Protocolo de Quioto, de 1997. Ele é visto como acordo enfraquecido que inclui alguns estados desenvolvidos que agora somam apenas 25% das emissões globais, e que foi mantido como um apoio ao acordo de Durban.
O último acordo estende o limite dos países desenvolvidos, que de outra forma expiraria no próximo ano. Mas vê-se claramente que não chegará perto o suficiente de fazer o bastante pelas emissões.
O pacto, conhecido como “a Plataforma de Durban”, criou a promessa de um novo acordo obrigatório até 2020, e estabeleceu um roteiro para se chegar lá. A preocupação é que até o momento que novas disposições entrarem em vigor, elas serão atenuadas nas negociações até o ponto de ficarem sem sentido, afirmam analistas.
A China, os Estados Unidos e a Índia, os três maiores emissores, que somam agora cerca de metade das emissões globais de CO2, não estão vinculados a Quioto e não estarão vinculados a qualquer quota juridicamente exigível até 2020.
Os três foram acusados por grupos de lobby ambiental de anos de bloqueio através de medidas tomadas, e os três citam prioridades domésticas em sua defesa. O senado dos EUA precisa de maioria para aprovar tratados globais e não tem uma coalizão ampla o suficiente para assinar um acordo climático global.
A Índia e a China declararam que reduzir suas emissões prejudicaria suas economias em crescimento acelerado e colocaria milhões de seus habitantes, que buscam sair da pobreza, em risco.
RISCO DE DANOS PERMANENTES
Mas os que pedem uma maior redução de emissões dizem que essas populações estão sendo colocadas em um risco maior pelas mudanças climáticas. “A população mundial é a que mais perde, porque os governos estão reverenciando mais os interesses corporativos do que os interesses das pessoas por ações agressivas”, afirmou Alden Meyer, da União dos Cientistas Preocupados.
Meyer, um veterano nas negociações climáticas da ONU, pediu por mais ambições nos cortes de emissões e no apoio financeiro para mudanças industriais para “um espírito mais colaborativo do que o que vimos no centro de conferência de Durban nessas duas últimas semanas”.
Enviados de nações ao processo climático da ONU e cientistas que os informam veem uma necessidade de limitar o aumento médio da temperatura global em dois graus Celsius em relação ao período pré-industrial para prevenir mudanças climáticas mais sérias. Grupos ambientais têm dito que as atuais ações não são o suficiente.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente declarou em um relatório no último mês que as emissões estavam a caminho de aumentar além do possível para limitar o aquecimento global em dois graus, e analistas avisam que atrasos nos cortes dos estados desenvolvidos e na redução do passo acelerado do crescimento das emissões na maioria dos países em desenvolvimento têm colocado o planeta em risco crescente.
Meyer disse: “Estamos a caminho de um aumento de 3-3,5 graus Celsius se não fizermos cortes agressivos até 2020”.
“E não há nada que sugira que esse acordo alterará isso”.
Se as temperaturas subirem, também sobem os danos, que incluem a diminuição de colheitas, o aumento da acidificação dos oceanos – o que aniquilaria espécies – e o aumento do nível do mar – que destruiria estados insulares –, afirmou o relatório.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico declarou que a média de temperaturas globais poderia aumentar 3-6 graus até o final do século se os governos não contiverem as emissões, trazendo destruição permanente aos ecossistemas.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha e Sociedade do Crescente Vermelho, as maiores redes de ajuda a desastres do mundo, viram o acordo de Durban como uma falha coletiva para reter a destruição causada por mudanças climáticas nas populações mais vulneráveis do mundo.
“É francamente inaceitável que não possamos concordar quando tantas vidas estão em jogo”, disse Bekele Geleta, secretário-geral do grupo, em uma declaração.
Selwin Hart, principal negociador da aliança de pequenos estados insulares, afirmou, no entanto, que pelo menos há um acordo para continuar. “Gostaria de ter mais, mas ao menos temos algo com que trabalhar”, declarou ele.
“Tudo ainda não está perdido”.
Autor: Jon Herskovitz
Traduzido por Jéssica Lipinski