• 25 de outubro de 2023
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Agência vê pico de emissões até 2025, mas 1,5ºC ainda fora de alcance

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) publicou nesta terça-feira (24) seu aguardado relatório anual World Energy Outlook. O documento mostra que os investimentos em energia renovável aumentaram 40% desde 2020. No entanto, esse crescimento não será suficiente para conter a crise climática se a demanda por combustíveis fósseis não diminuir rapidamente.


Segundo a IEA, a participação dos combustíveis fósseis no fornecimento global de energia, que está estabilizada há décadas em cerca de 80%, diminui para 73% até 2030, sendo que as emissões globais de dióxido de carbono relacionadas à energia devem atingir o pico até 2025. O relatório aponta que, sem mudanças aceleradas no setor de fósseis, as emissões globais de poluentes vão permanecer altas o suficiente para aumentar as temperaturas médias globais em cerca de 2,4 °C neste século. O limite do Acordo de Paris é 1,5°C.


“A transição para a energia limpa está acontecendo em todo o mundo e é imparável. Não é uma questão de ‘se’, é apenas uma questão de ‘quando’ – e quanto mais cedo, melhor para todos nós”, disse Fatih Birol, diretor-executivo da IEA.


O documento ainda lembra que o mercado de combustíveis fósseis é instável por causa de conflitos, como a guerra entre Ucrânia e Rússia e os embates prolongados no Oriente Médio. “Levando em conta as tensões e a volatilidade contínuas nos mercados de energia tradicionais de hoje, as alegações de que o petróleo e o gás representam escolhas seguras para o futuro energético e climático do mundo parecem mais fracas do que nunca”, afirmou Birol.


A IEA propôs um plano de cinco pontos para manter viva a meta de 1,5°C e garantir o sucesso da COP28, a conferência do clima que começa daqui a um mês e uma semana em Dubai. Segundo o World Energy Outlook, será preciso:


triplicar a capacidade global de energias renováveis;
dobrar a taxa de melhorias na eficiência energética;
reduzir em 75% as emissões de metano das operações de combustíveis fósseis;
adotar mecanismos inovadores de financiamento em larga escala para triplicar os investimentos em energia limpa em economias emergentes e em desenvolvimento;
e medidas para garantir um declínio ordenado no uso de combustíveis fósseis, incluindo o fim da aprovação de novas usinas termelétricas a carvão sem captura de carbono.
O aumento em três vezes da capacidade instalada de renováveis vem sendo defendido por ONGs ambientalistas, que querem que a COP produza uma decisão para atingir 1,5 terawatt em solar, eólica e outras fontes até 2030. Só que os ambientalistas também demandam uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis. A IEA já havia dito, no mês passado, que nenhum projeto novo de fósseis poderia ser autorizado em nenhum lugar do mundo se a humanidade quisesse ter alguma chance de cumprir o objetivo de Paris. O novo relatório não repete o alerta, mas mostra como as políticas energéticas que os países já estão adotando mexeu os ponteiros e deslocou os fósseis pela primeira vez.


Até 2030, diz a agência, haverá quase dez vezes mais carros elétricos no mundo; painéis solares fotovoltaicos vão gerar mais eletricidade do que todo o sistema de energia dos EUA gera atualmente; a participação das energias renováveis na geração mundial de eletricidade se aproximará de 50%, contra 30% atualmente; bombas de calor e outros sistemas de aquecimento elétrico vão superar os boilers a óleo combustível e gás em todo o mundo; e haverá três vezes mais investimento em novos projetos de energia eólica offshore do que em novas usinas a carvão e gás.


Mas a dependência humana de combustíveis fósseis é tão imensa que, mesmo com essa revolução energética, a fatia de óleo, gás e carvão mineral na matriz global recua apenas sete pontos percentuais. O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável: para termos uma chance razoável de estabilizar o aquecimento global em 1,5ºC, é preciso cortar as emissões em 43% até 2030. Por enquanto isso não está no horizonte.

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