• 03 de novembro de 2016
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Apocalipse climático cada vez mais perto

A humanidade se aproxima cada vez mais do que se pode chamar de apocalipse climático. A concentração média mundial de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiu um novo recorde em 2016, e não cairá abaixo dos níveis anteriores a 2015 durante muitas gerações. A advertência foi feita pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e confirma mais uma vez o alarme de especialistas e organizações especializadas no clima.

Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, disse que 2015 marcou o começo de uma nova era de otimismo e ação em favor do clima, após o acordo sobre mudança climática alcançado em Paris. “Mas foi um ano que também passará à história por marcar uma nova era da realidade da mudança climática, com concentrações recordes de gases-estufa”, observou.

“Se não lidarmos com as emissões de dióxido de carbono, não poderemos enfrentar a mudança climática e manter o aumento da temperatura inferior a dois graus Celsius acima da registrada na era pré-industrial. Por isso é de extrema importância que o Acordo de Paris entre em vigor antes do previsto, no dia 4 de novembro”, afirmou Taalas no dia 24 do mês passado.

A OMM alertou, no começo deste ano, que a temperatura do planeta subiu um grau desde o começo do século 20, a meio caminho do limite crítico dos dois graus, e que os planos nacionais contra a mudança climática adotados até o momento não bastariam para evitar uma elevação de três graus.

Os níveis de CO2 haviam alcançado previamente a barreira de 400 partes por milhão em determinados meses do ano e em certos lugares, “mas nunca antes como média mundial para todo o ano”. Segundo a OMM, o fenômeno climático El Niño impulsionou a elevação de CO2 quando começou em 2015 e se estendeu com força até este ano.

“O limite de 400 partes por milhão é de grande importância simbólica”, afirmou o anterior secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, em 2014. “Deve servir como outra advertência sobre ao aumento constante dos níveis de gases-estufa que estão impactando a mudança climática e a acidificação de nossos oceanos”, acrescentou.

Segundo Jarraud, isso desencadeou secas em regiões tropicais e reduziu a capacidade de “sumidouros” como as florestas, os oceanos e a vegetação para absorver CO2. Esses sumidouros absorvem atualmente cerca de metade da emissões de CO2, mas há o risco de que possam chegar a saturar, o que aumentaria a fração de dióxido de carbono emitido que permanece na atmosfera, segundo o Boletim sobre Gases-Estufa, publicado pela OMM.

O CO2 permanece na atmosfera durante milhares de anos, prendendo o calor e provocando o aquecimento do planeta. A vida útil do CO2 nos oceanos é ainda maior. Segundo a OMM, é responsável por 85% do efeito de aquecimento da Terra na última década. Por outro lado, a Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação diz que as secas e inundações que afetam muitas partes do mundo estão vinculadas à corrente El Niño, que teria afetado 60 milhões de pessoas este ano.

“Em algumas zonas, inclusive no nordeste do Brasil, Somália, Etiópia, Quênia e Namíbia, as consequências do El Niño se fazem sentir após anos de secas severas e recorrentes. A recuperação é impossível para as famílias que dependem da terra para sua alimentação e mão de obra agrícola, sobretudo quando se degrada a terra”, apontou a secretária executiva da Convenção, Monique Barbut.

Essas condições não são devastadoras apenas para as famílias e as comunidades. Se não forem atendidas, poderão se converter em uma causa de migração e acabar com graves abusos contra os direitos humanos e ameaças à segurança de longo prazo, pontuou Barbut. “Vimos isso antes: em Darfur após quatro décadas de seca e desertificação, e, mais recentemente, na Síria, após a longa seca de 2007 a 2010”, detalhou.

Para ela, é “uma tragédia ver como uma sociedade se quebra quando poderíamos reduzir a vulnerabilidade das comunidades com medidas simples e acessíveis, como a restauração das terras degradadas nas quais vivem, e ajudar os países a estabelecerem melhores sistemas de alerta de secas, para se preparar e administrar a seca e as inundações”.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou que a rapidez da mudança no clima mundial se expressa em fenômenos meteorológicos mais extremos e frequentes, como ondas de calor, secas e elevação do nível do mar.

Os impactos da mudança climática na agricultura e as consequências para a segurança alimentar já são alarmantes e são os temas deste informe, explicou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, se referindo ao relatório Estado da Agricultura e da Alimentação 2016, e como podem adaptar-se à mudança climática os pequenos produtores para fazer com que os meios de vida das populações rurais sejam mais resilientes.

Uma conclusão importante é que existe a necessidade urgente de apoiar os pequenos agricultores em sua adaptação à mudança climática, os quais, entre outros grupos, são os mais vulneráveis ao fenômeno. “Vão exigir muito maior acesso às tecnologias, aos mercados, à informação e a créditos para o investimento, a fim de adequar seus sistemas e suas práticas de produção à mudança climática”, destacou.

A menos que sejam tomadas medidas agora para fazer com que a agricultura seja mais sustentável, produtiva e resistente, os efeitos da mudança climática comprometerão seriamente a produção de alimentos nos países e nas regiões que já são extremamente expostos à insegurança alimentar, alertou Graziano.

“Por seus efeitos na agricultura, nos meios de vida e na infraestrutura, a mudança climática ameaça todas as dimensões da segurança alimentar. Exporá tanto a população pobre urbana e rural a preços dos alimentos mais altos e voláteis”, explicou o diretor da FAO. Segundo Graziano, também afetará a existência de alimentos ao reduzir a produtividade dos cultivos, a pecuária e a pesca, e impedir o acesso aos alimentos ao transtornar os meios de vida de milhões de pessoas de zonas rurais que dependem da agricultura para obter renda.

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