Aumento de CO2 nos oceanos pode ameaçar cardumes
Dois novos estudos indicam que grandes concentrações de CO2, que aumentam a acidificação nos mares, prejudicam a taxa de crescimento e elevam a mortalidade dos alevinos, podendo por em risco algumas espécies de peixes
Sabe-se que a acidificação dos oceanos, provocada pelo aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) nos mares, pode causar danos a diversas espécies de animais que têm conchas ou exoesqueletos de cálcio. Mas duas novas pesquisas revelam que os peixes também poderão ser atingidos por essa acidificação, tendo seu crescimento e desenvolvimento prejudicados.
Anteriormente, os cientistas acreditavam que, diferentemente de crustáceos, moluscos, corais e algas, os peixes não tinham problemas com a acidificação dos oceanos, pois estes animais, quando adultos, possuem mecanismos que permitem a eles tolerar grandes concentrações de dióxido de carbono.
Mas os novos estudos, realizados com alevinos – larvas de peixes – de duas espécies, revelaram que o aumento da acidificação dos oceanos afeta o crescimento e desenvolvimento dos filhotes de peixes, prejudicando diversos órgãos dos animais e influenciando seus índices de sobrevivência.
“Sempre dissemos que os peixes são reguladores tão bons que eles não seriam afetados pela crescente acidificação dos oceanos. Mas o que descobrimos é que as larvas, que não desenvolveram esses mecanismos ainda, são mais vulneráveis ao CO2 do que pensávamos”, observou Andrea Frommel, bióloga de pesca do Instituto Leibniz de Ciências Marinhas em Kiel, na Alemanha.
A primeira pesquisa foi realizada com alevinos da espécie Menidia beryllina, que foram colocados em três ambientes com concentrações diferentes de CO2: um com a concentração próxima à atual (400 partes por milhão – PPM), outro com a prevista para a metade do século (600 PPM) e um terceiro com a prevista para o fim do século (1000 PPM).
“Imediatamente, vimos resultados. As taxas de sobrevivência foram reduzidas na metade ou menos com grandes concentrações de CO2”, comentou Christopher Gobler, biólogo marinho da Universidade de Stony Brook de Nova York. Quando a concentração chegou a 1000 PPM, os índices de sobrevivência para uma semana caíram 74%.
O outro estudo utilizou larvas do peixe Gadus morhua, conhecido popularmente como bacalhau-do-Atlântico e muito consumido como alimento. Estes alevinos também foram colocados em três situações de concentração de dióxido de carbono: uma equivalente aos dias de hoje (380 PPM), uma correspondente a 2200 (1800 PPM) e outra de extrema ressurgência costeira (4200 PPM), em que ventos trazem o CO2 das águas profundas para a superfície.
Nesta pesquisa, constatou-se que à medida que a concentração de CO2 aumentava, as larvas mostravam cada vez mais problemas na formação e no desenvolvimento de seus órgãos internos, o que consequentemente levou a um aumento da taxa de mortalidade.
“Esses dois estudos são parte de uma tendência crescente que compreende que os efeitos mais amplos da acidificação dos oceanos são muito mais do que apenas a calcificação”, alertou Donald Potts, biólogo de recifes de corais da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.
“Se os efeitos descobertos nesses dois estudos puderem ser generalizados para outras espécies de peixe, as implicações poderão ser muito grandes”, concordou William Cheung, ecologista marinho do Centro de Pesca da Universidade de British Columbia em Vancouver, Canadá.
Pesca sustentável
Mas a acidificação dos oceanos não é o único problema que os peixes enfrentam atualmente. A sobrepesca e a pesca ilegal também são grandes ameaças às diversas espécies que habitam os mares e à segurança alimentar dos seres humanos.
Por isso, a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) adotou uma resolução sobre pesca sustentável, que expressa a preocupação sobre os impactos atuais e futuros das mudanças do clima sobre a segurança alimentar.
A resolução A/66/L.22, adotada sob o item ‘Oceanos e legislação marinha’, delineia a necessidade urgente de ação no sentido da gestão sustentável e denuncia que a pesca ilegal, não comunicada e desregulada constitui uma ameaça grave aos estoques de peixes e habitats marinhos, colocando em risco também a economia de muitos países.
A AGNU convoca os países a ter um papel ativo nos esforços de conservação e uso sustentável dos recursos marinhos vivos e as organizações regionais a tomar medidas em relação à pesca de arrasto.
Durante a sessão plenária, vários delegados enfatizaram que a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) será uma oportunidade para ressaltar as prioridades na conservação e gestão dos oceanos, especialmente na implantação de medidas para proteção de ecossistemas marinhos vulneráveis.