• 09 de janeiro de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Aumento na produção de biocombustíveis pode causar poluição, diz estudo

Uma nova análise publicada neste domingo na Nature Climate Change aponta que colheitas para biocombustíveis emitem altas taxas de ozônio, e que o aumento na produção pode piorar a qualidade do ar, levando inclusive a mortes
Não é novidade que a produção de biocombustíveis é polêmica, seja pelas taxas na redução da emissão de dióxido de carbono, seja pela influência no preço das commodities alimentares. E uma nova pesquisa apresentada neste domingo no periódico Nature Climate Change promete colocar mais lenha nesta fogueira, indicando que há ainda mais razões para que essa produção seja desenvolvida cautelosamente.

De acordo com o estudo, os subprodutos vegetais utilizados na geração de biocombustível, como colheitas de soja, milho e lenha, emitem substâncias químicas no ar que, em grande quantidade, podem ser muito prejudiciais ao ser humano.

Uma dessas principais substâncias é o ozônio, que nas camadas mais altas da atmosfera forma uma proteção contra os raios ultravioletas do sol, mas nas camadas mais baixas acaba agindo como poluente. Entre os prejuízos que pode causar à saúde estão a redução das funções pulmonares, inflamação nas vias respiratórias e elevação nas chances de doenças cardiovasculares.

Por isso, caso a produção de biocombustíveis aumente em 33% nos próximos 20 anos na Europa, como é estimado pela análise, o crescimento na liberação dessa substância pode aumentar em 1.365 o número de mortos pela poluição de ozônio, um crescimento de 6% em relação ao índice atual, de 22 mil mortos por ano.

Além da perda de vidas, o aumento nas emissões de ozônio também causaria um prejuízo de US$ 7,1 bilhões à sociedade, e o valor da produção de algumas commodities, como trigo e milho, seria reduzido em US$ 1,5 bilhão, já que o ozônio prejudica o crescimento dessas plantas.

“Pensa-se que cultivar biocombustíveis é uma coisa boa porque eles reduzem a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera. O que estamos dizendo é ‘sim, isso é bom, mas os biocombustíveis também podem ter um efeito negativo na qualidade do ar’”, comentou Nick Hewitt, que trabalhou no estudo com colegas da Universidade de Lancaster.

“A produção de biocombustíveis em larga escala na Europa teria efeitos pequenos mas significativos na mortalidade humana e nas colheitas. Até onde sabemos, ninguém analisou a qualidade do ar de colheitas de biocombustíveis antes”, acrescentou Hewitt.

A pesquisa não comparou o possível dano causado pelos biocombustíveis com o impacto na saúde humana da produção de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás natural. “Não estamos em posição de fazer essa comparação”, observou Hewitt.

No entanto, o pesquisador lembrou que os biocombustíveis reduzem emissões de dióxido de carbono em relação aos combustíveis fósseis, que contribuem grandemente para as mudanças climáticas. E segundo a Organização Mundial da Saúde, as mudanças climáticas são responsáveis pela morte de mais de 140 mil pessoas por ano desde a década de 1970.

Os maiores impactos são registrados nos países em desenvolvimento, onde enchentes, secas e outros desastres atribuídos parcialmente às mudanças climáticas levam a milhares de casos de diarreia, subnutrição, malária e dengue.

A pesquisa conclui que, antes de produzir biocombustíveis em larga escala, é preciso pesar os impactos negativos e positivos dessa produção, como a emissão de ozônio e a redução de emissões.

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