• 26 de janeiro de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Aves e borboletas não acompanham mudanças climáticas

Pesquisa analisa por duas décadas 2.130 comunidades de borboletas e 9.490 de aves na Europa e alerta que centenas de espécies não conseguem migrar na velocidade necessária e correm risco de desaparecer
A maioria dos cientistas afirma que as mudanças climáticas estão sendo responsáveis pela alteração do habitat de diversos animais, levando-os a migrarem para locais onde possam encontrar condições de vida mais favoráveis à sua espécie. Mas uma nova pesquisa sugere que alguns não estão conseguindo acompanhar a velocidade do aquecimento global, o que pode levar à redução do número e até à extinção de muitos representantes da fauna europeia.

A análise, publicada na revista Nature e realizada por cientistas da Espanha, França, Países Baixos, Reino Unido, República Tcheca e Suécia, foi desenvolvida a partir do estudo do comportamento de 2.130 comunidades de borboletas e 9.490 de aves na Europa durante as últimas duas décadas (de 1990 a 2008).

Segundo a pesquisa, enquanto a elevação das temperaturas avançou 250 quilômetros para o norte do continente, o deslocamento das borboletas foi de 114 quilômetros, e a movimentação das aves foi de apenas 37 quilômetros, também para essa mesma direção.

“Tanto as borboletas quanto as aves respondem às mudanças climáticas, mas não rapidamente o suficiente para acompanhar um clima cada vez mais quente. Não sabemos quais efeitos ecológicos a longo prazo isso terá”, comentou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia.

“Nossos resultados não indicam apenas que as aves e as borboletas são incapazes de seguir as mudanças climáticas rapidamente o suficiente. Eles também mostram que o hiato entre os dois grupos está aumentando”, complementou Chris van Swaay, do Dutch Butterfly Conservation.

Para os cientistas, há uma explicação para o avanço mais acelerado das borboletas em relação ao das aves. “O fato de que as borboletas estão reagindo em média mais rapidamente às mudanças climáticas em nível europeu do que as aves pode ser porque as borboletas têm ciclos de vida relativamente curtos e são muito sensíveis à temperatura ambiente, o que as permite seguir as mudanças de temperatura mais rapidamente do que as aves”, observou Oliver Schweiger, do Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental (UFZ).

No entanto, de acordo com os pesquisadores, esse distanciamento entre o habitat das borboletas e o das aves poderá ter consequências severas para as espécies, já que muitas vezes elas dependem umas das outras para se alimentarem e sobreviverem.

“Um aspecto preocupante disso é se as aves saírem da sintonia com as borboletas, porque lagartas e insetos em geral representam uma fonte importante de alimento para muitas aves”, explicou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia. E mesmo para as borboletas, que conseguem acompanhar melhor as mudanças climáticas, o aquecimento global será perigoso, pois também poderá reduzir e alterar sua oferta de alimento.

“Quanto mais especializada a espécie é, mais ameaçada ela será por tais mudanças. As lagartas da Boloria titania dependem da planta Polygonum bisorta como alimento. Mesmo se essa espécie de borboleta conseguir acompanhar as temperaturas, a planta da qual ela depende não tem nem de longe tanta mobilidade”, esclareceu Josef Settele, do UFZ.

Além de observar a migração dos animais, o estudo também possibilitou que os pesquisadores especificassem em quais regiões o problema se deu com maior intensidade, e como as espécies se movimentaram e se assentaram.

Os resultados variaram entre os países analisados. Na República Tcheca, por exemplo, quase não houve mudança na temperatura média para o habitat das aves, mas na Suécia, ocorreu um grande aumento na temperatura. Já para as borboletas, houve pouca alteração no Reino Unido, mas grandes variações nos Países Baixos.

Os estudiosos consideram os resultados alarmantes, pois aves e borboletas estão entre os animais que têm mais facilidade para se deslocarem e se adaptarem, e isso pode significar que outras espécies sofrerão ainda mais com o aquecimento global. Além disso, os pesquisadores acreditam que a análise revela a importância das previsões do impacto das mudanças climáticas sobre os ecossistemas.

“Nos últimos 50 anos, os principais fatores que afetam os números e a distribuição de aves e de borboletas têm sido a agricultura, a silvicultura e a urbanização. As mudanças climáticas estão agora surgindo como um fator cada vez mais importante no desenvolvimento da biodiversidade”, concluiu Lindström.

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