• 20 de março de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Açaí: o ouro negro pode ser um vilão para a Amazônia?

Aumento do consumo poderia representar risco para a floresta, dizem veículos da mídia internacional.

Uma reportagem recente publicada pelo site da rede de TV Al Jazeera mostrou que o crescimento elevado do consumo de açaí, com a exportação para outros países, pode levar ao desmatamento da floresta amazônica. Em 2008, uma matéria do jornal norte-americano Los Angeles Times já apontava os riscos para o meio ambiente por trás da moda do açaí, que passou a ser usado como ingrediente para produtos como sorvetes e barra de cereais. Por outro lado, há quem diga que o fruto protege a floresta, pois a grande procura tem diminuído a derrubada da árvore para a retirada do palmito.

Segundo os dados do IBGE, a quantidade de frutos de açaí produzida pelo extrativismo no ano de 2010 foi de 124.421 toneladas, o que representou um valor total de aproximadamente R$ 179 milhões. De 2007 a 2010, a produção extrativista teve um aumento de 16 mil toneladas.

De acordo com o engenheiro agrônomo Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, o açaí grosso custava, em 1995, R$ 1,50/litro, mas, com o aumento da demanda, chegou a R$ 24/litro em 2008. “Isto corresponde a um aumento sem precedentes para qualquer produto agrícola e indica que precisamos plantar imediatamente 50 mil hectares para atender o mercado, uma quantia irrisória considerando a dimensão da área desmatada no Estado do Pará, que atinge quase 20 milhões de hectares.”

Na avaliação de Homma, o aumento da demanda foi provocado pela extensão do período de consumo, que se restringia à época da safra (de três a quatro meses) e passou a abranger os 12 meses do ano em função das técnicas de beneficiamento e congelamento, além da exportação para as áreas fora da Amazônia.

O especialista explica que existem três fontes de onde o fruto do açaí é colhido. A mais antiga é a dos açaizais nativos existentes nas margens de rios misturados a outras árvores, e que, por isso, apresentam menor produtividade por área. A segunda consiste em áreas de açaizais nativos, mas que passaram por manejo. Nessas regiões, se efetua o desmatamento e o plantio para aumentar a densidade da espécie.

“Com isso, transforma-se uma floresta heterogênea em uma floresta homogênea de açaizeiros. Essa derrubada das áreas de várzeas é feita sem queima e é constituída da chamada madeira branca, que apodrece depois de um ano. Só então é efetuado o plantio de mudas de açaizeiros. Depois de dois a três anos, tem-se um açaizal formado”, afirma Homma, ressaltando que a maior parte do açaí atual é obtida dessas áreas.

A terceira fonte de frutos é a dos açaizeiros plantados em áreas de “terra firme”, não sujeitas a inundação e já desmatadas no passado. Nesses locais, por meio de técnicas agronômicas consegue-se obter o açaí na entressafra, quando o preço é bastante elevado. Para Homma, é necessário que os plantios de açaizeiros sejam dirigidos para essas áreas já desmatadas de terra firme: “Como na Amazônia Legal, até 2011, já foram desmatados mais de 74 milhões de hectares, ou seja, três vezes o Estado do Paraná, não é necessário derrubar mais nada. Se o mercado continuar a crescer, o manejo em área de várzeas, por constituir em um ecossistema mais frágil, naturalmente, esconde riscos ambientais”, alerta o especialista.

A partir da década de 1970, as áreas de ocorrência de açaizeiros no Estado do Pará sofreram fortes derrubadas para extração do palmito, o que levou o presidente Ernesto Geisel a assinar a Lei 6.576/78, proibindo a sua derrubada, mas que não obteve êxito. A valorização do fruto a partir da década de 1990, no entanto, teve efeito positivo sobre a conservação das árvores. “Os açaizeiros localizados nas áreas próximas aos grandes mercados consumidores deixaram de ser derrubados para a extração de palmito e passaram a ser mantidos para produção de frutos. Mas, quando os pés ficam muito altos, é necessário que sejam derrubados para o aproveitamento do palmito”, explica Homma.

O gerente de Agroextrativismo do Ministério do Meio Ambiente, João d’Angelis, também acredita que o uso econômico do açaí favorece a manutenção da floresta em pé, já que sua produção depende da sobrevivência da palmeira. João d’Angelis ressalta ainda que não identifica uma relação direta entre o cultivo do açaí e o desmatamento, “a não ser, quando associado a práticas ilegais”.

“De acordo com o Código Florestal, os imóveis rurais situados em áreas de florestas na Amazônia Legal devem manter área mínima de 80% com cobertura de vegetação nativa, a título de reserva legal. Em sendo respeitados esses limites, do ponto de vista ambiental, é mais adequado o cultivo de uma espécie nativa do que exótica por favorecer a fauna e a flora locais. Além disto, o cultivo de espécies permanentes, como o açaí, gera uma maior retenção de carbono e menor revolvimento do solo do que as espécies temporárias.”

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