Estratégia para contribuir com a segurança hídrica é tema de seminário internacional realizado em Fortaleza, no Ceará.
O Brasil iniciou nesta terça-feira, durante a abertura do Seminário da Associação Latino-americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr), em Fortaleza (CE), o debate sobre dessalinização de água do mar.
Participantes do evento, que reúne representantes de instituições nacionais e internacionais, defenderam a ideia como uma forma de ampliar em larga escala o acesso à água de qualidade e contribuir para a segurança hídrica e para a construção de uma política nacional de dessalinização.
“Precisamos aproveitar as experiências de outros países, conhecer normatizações e reunir todos os interessados num grande debate sobre tecnologias de dessalinização de água do mar e reúso que se inicia a partir deste seminário da Aladyr", declarou o diretor de Revitalização de Bacias Hidrográficas e Acesso à Água do Ministério do Meio Ambiente, Renato Ferreira.
O diretor da Aladyr, Marcelo Bueno Prado, disse que é salutar para qualquer país, em especial para o Brasil, diversificar as tecnologias de dessalinização e reúso de água, principalmente agora nesses tempos de mudança do clima.
“Ter alternativa nessa área da produção de água é como adotar matrizes diferentes na área energética. Uma ajuda a outra. E isso se torna ainda mais importante agora com a crise hídrica”, pontuou.
Emílio Gabrielli, ex-presidente da Associação Internacional de Dessalinização (IDA, na sigla em inglês), também exaltou a iniciativa. “É muito importante para o Brasil iniciar este debate, que já se encontra em estágio bem avançado em países como Arábia Saudita, Israel e Canadá”.
ALTERNATIVA TECNOLÓGICA
O diretor de Planejamento da Agência Nacional de Águas (ANA), Marcelo Cruz, afirmou que a dessalinização, tão comum em países desérticos ou com pouca disponibilidade de água, apresenta-se, cada vez mais, como uma alternativa tecnológica para os países em desenvolvimento, como o Brasil, tendo em vista o barateamento dessa tecnologia.
“O caminho para ampliar a oferta de água parece óbvio, afinal, 97,5% da água do planeta azul está no mar. Antes caras, as técnicas de dessalinização estão evoluindo e a redução dos custos já viabiliza a ampliação de seu uso. Prova disso, no Brasil, é o Programa Água Doce, do MMA, que investe em sistemas de dessalinização mediante osmose inversa para oferecer água com qualidade a populações de baixa renda em comunidades do semiárido” .
No seminário foram apresentadas experiências nacionais, a exemplo do Programa Água Doce, que por meio da dessalinização de águas salobras, captadas de poços profundos, atende com água de qualidade para consumo humano, mais de 500 comunidades do semiárido brasileiro.
Também foi apresentado por Guilherme Duarte Freire, especialista em gestão de projetos e obras da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) a experiência de Fernando de Noronha.
Segundo ele, o sistema de dessalinização adotado no arquipélago garante hoje o abastecimento de água potável de 80% dos 5 mil moradores fixos de Noronha. “Estamos produzindo 48 m3/hora. A meta é ampliar ainda este ano para 72 m3/h, o que garantirá a segurança hídrica da ilha”.
EXPERIÊNCIAS
O secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco José Teixeira, informou que o estado começa também a investir em dessalinização das águas marinhas. Até maio, segundo ele, será aberta licitação para contratar empresa que vai elaborar o projeto para a região metropolitana de Fortaleza.
Outro caso apresentado durante o seminário foi o do município de Macau (RN). O Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, Mairton França, disse que estudos para a instalação do sistema de dessalinização da água do mar no município já foram iniciados. “Nossa intenção é concluir o projeto até o próximo ano”.
O seminário da Aladyr segue na manhã desta quarta-feira (25) com debates sobre “Projetos, Desafios e Aprendizados em se Realizar a Dessalinização da Água da Baía de Guanabara”, com a Opersan; “Soluções Avançadas para o Tratamento e Reúso de Efluentes: Jardins de Reúso de Água”, com a Organica Water; e “Previsão e Monitoramento das Chuvas no Ceará em 2018”, com representante da Fundação Cearense do Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
A ALADYR
A Associação Latino-americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr) tem representações em todos os países da América Latina, inclusive o Brasil. Foi criada com a finalidade de promover, proteger e desenvolver tecnologias e projetos destinados à dessalinização e tratamento de água para reúso e consumo, seguindo padrões de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.
A entidade representa seus associados perante organizações públicas e privadas do setor de tratamento de água, contribui com pesquisas acadêmicas, por meio da geração de novos conhecimentos, aplicações e tecnologias e, ainda, aposta no progresso de profissionais da área com a realização de encontros, seminários e eventos similares.
O seminário de Fortaleza faz parte do ciclo de eventos de 2018 da entidade. É o segundo realizado no Brasil. Tem o apoio do Ministério do Meio Ambiente.