Pela primeira vez na história humana, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera permaneceu acima de 400 partes por milhão durante um mês inteiro Apesar de o clima possuir variáveis naturais que flutuam subindo e descendo com o passar do tempo, dando assim a ele um ritmo cíclico, estamos atualmente em uma situação completamente “fora da curva” (veja gráficos ao lado). A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ficou durante todo o mês de abril acima das 400 partes por milhão (ppm), algo que estudos apontam não acontecer há pelo menos 800 mil anos, mas que possivelmente só encontra paralelo há milhões de anos, quando o planeta era muito diferente do que é hoje, com uma maior atividade vulcânica, por exemplo. A constatação foi anunciada nesse dia primeiro de maio pelo Instituto Scripps de Oceanografia, da Universidade de San Diego, que monitora a estação de Mauna Loa, no Havaí. Segundo as medições, a concentração média de CO2 em abril foi de 401,33 ppm. Foi também o Scripps a primeira entidade a registrar que a concentração de CO2 havia ultrapassado a marca das 400 ppm em um dia. Isso aconteceu em nove de maio de 2013. “É muito simbólico. Este é um ponto em que devemos parar e pensar sobre onde estamos e o que estamos fazendo. É uma marca que nos alerta sobre o que já vinha se construindo na nossa frente há algum tempo”, afirmou na ocasião Ralph Keeling, responsável pela estação de Mauna Loa. Pesquisadores relacionam a maior concentração de CO2 na atmosfera com a elevação das temperaturas médias no planeta, algo que também já é mensurado. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o planeta teria aquecido cerca de 0,8ºC desde a Revolução Industrial, e, se nada for feito, teremos até o fim do século uma elevação de pelo menos 3ºC Ainda de acordo com o IPCC, um planeta mais quente significa que mais energia estará sendo movimentada pelo sistema climático, o que resulta no aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, ondas de calor e tempestades. “A ultrapassagem dessa marca é uma lembrança significante do quão rápido – e do quão extenso – está sendo o aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera. No começo da industrialização, a concentração de CO2 era de apenas 280 ppm. Esperamos que essa marca ajude a trazer uma maior conscientização sobre a realidade científica das mudanças climáticas”, declarou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, quando foi ultrapassada a marca das 400 ppm. Em entrevista para a revista Slate nesta semana, Ralph Keeling destacou que os números de abril mostram que não estamos levando as mudanças climáticas a sério. “Nós, como planeta, não fizemos o bastante para lidar com as mudanças climáticas (...) O ponto central, e mais difícil, é reduzir a queima de combustíveis fósseis. Eu não tenho uma visão clara de como isso deve ser feito, mas é evidente que, se mantivermos o mesmo curso atual, estaremos nos encaminhando para um planeta muito diferente no futuro. E isso representa muitos riscos.”