• 18 de novembro de 2016
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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COP 22: a insustentável leveza de Blairo Maggi em Marrakech

Ministro da Agricultura é protagonista de reclamações, elogios, contestações e comparações no mínimo polêmicas

Nesta segunda e última semana da COP 22 teve início o chamado Segmento de Alto Nível. Nesta fase, a chefia da delegação brasileira está a cargo do Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, mas quem tem agitado a participação do Brasil é o nosso Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi.

Em suas intervenções, sejam elas para o público brasileiro ou em painéis com representantes estrangeiros, Maggi, tem sido bastante veemente em defender o agronegócio brasileiro e discordar de posicionamentos caros aos ambientalistas.

Apesar de reconhecer as mudanças climáticas como algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos no país” e sentir na pele, como proprietário rural, “estão quebrando safras como eu nunca vi antes” e refletir sobre o futuro “como meus filhos e netos vão fazer agricultura nesse clima?” Maggi não deixa de contestar as reservas legais definidas no Código Florestal e cujo seu Ministério é um dos principais guardiões, “imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”, fazendo menção às propriedades rurais existentes no bioma amazônico que precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só não explicou porque uma lei como essa seria válida para um hotel. Quais razões haveria para uma interdição absolutamente sem nexo? Já a definição das regras para as reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o sentido no contexto ambiental.

O ministro tem reclamado do posicionamento dos países ricos quanto à falta de reconhecimento dos esforços brasileiros para conservar áreas florestais e, portanto, contribuindo para evitar a emissão de gases de efeito estufa. Segundo ele, “outros grandes produtores de alimentos como Estados Unidos, Argentina e Canadá não possuem reservas legais como nós, mas isso não nos trás vantagens”. Nesse caso, Maggi considera um problema assumirmos esse “ônus”, enquanto outros países não o fazem e desconsidera os serviços ambientais prestados pelas florestas, inclusive, para a produção de alimentos.

Outra polêmica de Maggi foi causada quando ele contestou o número de ativistas ambientais assassinados. O país lidera o ranking, segundo a ONG Global Witness, com 50 assassinatos (http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-06/brasil-lidera-ranking-de-mortes-de-ambientalistas-em-2015-diz-ong). Para o ministro, esses números não refletem a realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por conflitos que nada tem a ver com ativismo ou disputa por terras, “quando se vai fundo nas investigações, descobre-se que as razões das mortes foram outras”.

Mesmo representando o governo que recentemente ratificou o Acordo de Paris (assinado pelo Presidente Michel Temer) Blairo Maggi se mostra preocupado com o que o Brasil se comprometeu, “de onde virão os 40 bilhões de dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”. Aliás, nesse caso, ele é acompanhado pelos ambientalistas que também tem dúvidas quanto à origem dos recursos para uma demanda dessa proporção.

Para não parecer um estranho no ninho ao fazer questionamentos às ações previstas para o combate às mudanças climáticas no Brasil e no mundo em plena conferência do clima, nosso ministro estende as mãos aos ambientalistas, cuja ação ele faz questão de elogiar, “produtores e ambientalistas agora andam juntos”.

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