China assumirá metas obrigatórias para emissões em 2016
País responsável por quase 25% da liberação de gases do efeito estufa mundial revela detalhes de seu futuro mercado de carbono, uma decisão que deve influenciar as negociações climáticas internacionais
A Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China (NDRC) divulgou, nesta quarta-feira (22), a proposta para o mercado de carbono chinês, que deve, já a partir de 2016, estabelecer um limite de emissões de gases do efeito estufa (GEEs) para boa parte das indústrias do país. A iniciativa ainda precisa ser aprovada pelo gabinete do governo, mas conta com o apoio do presidente Xi Jinping.
O anúncio coloca uma enorme pressão sobre os Estados Unidos, segundo maior emissor mundial, que não poderá mais argumentar nas negociações climáticas internacionais que não adota metas porque isso daria à China uma grande vantagem econômica. O gigante asiático ainda costuma ser visto como um país emergente e fica de fora, por exemplo, das obrigações do Protocolo de Quioto.
“Essa é uma notícia muito excitante. Uma decisão tão importante deverá encorajar todas as nações, em particular os outros grandes emissores, como os Estados Unidos, a adotar ações climáticas mais fortes. Também melhora bastante as chances de que um ambicioso acordo climático internacional seja conseguido na conferência do clima das Nações Unidas em 2015”, afirmou Nicholas Stern, ex-diretor de economia do Banco Mundial, ao jornal britânico The Independent.
A comissária climática da União Europeia, Connie Hedegaard, foi um pouco mais cautelosa. "Ainda precisamos ver se as metas serão ambiciosas o suficiente, mas o fato de que a China está começando a lidar com o assunto [emissões] é importante", escreveu em seu Twitter.
Segundo os detalhes da proposta, o primeiro mercado de carbono regional chinês entrará em vigor formalmente já no próximo dia 18 de junho em Shenzhen, cobrindo 635 indústrias, o equivalente a 38% das emissões da província.
A China atualmente possui sete projetos pilotos, que são voluntários, e que devem cobrir cerca de 700 milhões de toneladas de CO2 em 2014.
A intenção é que a partir de 2015 cada uma dessas iniciativas se torne compulsória e que comecem a se unir para formar um grande mercado de carbono nacional. Em março, Wang Shu, diretor interino da NDRC, já havia afirmado que a ferramenta entraria em vigor no mais tardar em 2016.
A confirmação hoje dessa notícia faz parte do cumprimento da promessa feita pelo novo presidente chinês, Xi Jinping, que assumiu o cargo neste ano, de que trabalharia para resolver os problemas ambientais e climáticos do país.
O governo já havia anunciado que investirá 100 bilhões de Yuan (R$ 30 bilhões) nos próximos três anos para lidar com a poluição de Pequim. O objetivo é melhorar a eliminação do esgoto, o tratamento de resíduos e a qualidade do ar, assim como reprimir as construções ilegais.
A qualidade do ar na capital chinesa, uma cidade de cerca de 20 milhões de pessoas, tem ficado majoritariamente acima de níveis “muito insalubres” e “perigosos” desde o começo deste ano.
A China já possui a meta de cortar a intensidade de carbono em 17% durante o período 2011-2015, o que significa uma média anual de cerca de 3,5%. Para 2020, o objetivo é reduzir entre 40% e 45% com relação ao nível de 2005. Intensidade é a quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitida por unidade de produto interno bruto (PIB).
No ano passado, o governo apresentou um relatório sobre as medidas que já foram adotadas para reduzir suas emissões e para promover a adaptação às mudanças climáticas.
Segundo o documento, entre 2006 e 2010 a intensidade de carbono caiu 19,1%, o que seria o equivalente a cortar a emissão de 1,46 bilhão de toneladas de CO2. Assim, o governo afirma que alcançou o objetivo proposto pelo seu 11º Plano Quinquenal (2006-2010).
A guinada por uma China mais limpa também tem rendido bons lucros para as empresas locais. O país se transformou no líder mundial no setor industrial de tecnologia e energia limpa em termos absolutos, passando a União Europeia. Em 2012, as companhias chinesas de baixo carbono movimentaram mais de R$ 150 bilhões.
Porém, o país ainda possui números ambientais catastróficos.
O consumo de carvão na China cresceu mais 9% em 2011, segundo os dados mais recentes da Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos, o décimo segundo ano consecutivo de aumento, atingindo a marca de 3,8 bilhões de toneladas ou 47% de toda a quantidade utilizada no planeta.
Em relação a 2010, o país aumentou seu consumo de carvão em 325 milhões de toneladas, o que representa 87% dos 374 milhões de toneladas do crescimento mundial. Desde 2000, a demanda global subiu 2,9 bilhões de toneladas, sendo que a China respondeu por 82% disso, ou 2,3 bilhões de toneladas.
O apetite chinês por carvão se explica pelo aumento de 200% na geração elétrica no país desde 2000. Na média, o consumo do combustível fóssil subiu 9% ao ano na última década, mais do que o dobro no resto do mundo, 4%.
Com isso, não espanta a imensa quantidade de emissões de gases do efeito estufa chinesas. Em 2012, foram 9,7 bilhões de toneladas de GEEs liberados para a atmosfera, quase 25% do total mundial. Isso significa que cada chinês foi responsável pela liberação de 7,2 toneladas de gases, o que os colocou, pela primeira vez, dentro da margem das emissões per capita dos países industrializados (seis a 19 toneladas).