• 10 de setembro de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Com a esperança posta em 2013

Buenos Aires, Argentina, 10/9/2012 – Apesar do impacto da crise global, a economia da Argentina começa a se reerguer pelas mãos do auge dos preços da soja e das vendas industriais para o Brasil, mas a cautela prevalece entre especialistas e produtores quando alguns indicadores são projetados a médio e longo prazos. “Se forem mantidos os preços internacionais altos e houver financiamento, 2013 será melhor do que este ano, no qual os rendimentos (das colheitas) estiveram abaixo da média devido à seca”, disse à IPS o produtor agropecuário Pablo Paillole, com propriedades na província de Santa Fé.

Paillole tem uma propriedade de 42 hectares, que junto com as de seus irmãos completa os cem hectares onde plantam principalmente soja e milho, e também criam porcos. “A perspectiva depende muito da escala do produtor”, afirmou. “Quem tem mais de cem hectares estará muito bem, porque os custos se diluem na quantidade e se tem maior margem para especular e vender a colheita no momento em que o preço estiver mais alto”, acrescentou. De todo modo, para ele 2013 será “um ano melhor”.

A consultoria Abeceb calcula que em 2013 “a soja voltará a ser um fator importante para o desempenho da economia argentina a partir de uma colheita muito boa e preços que se manterão em um recorde histórico”. No dia 4, alcançou no mercado de Chicago, Estados Unidos, o máximo histórico de US$ 650,74 a tonelada. A Abeceb projeta que a produção nacional poderia chegar no próximo ano aos 54 milhões de toneladas, e que as exportações crescerão até um valor total de US$ 25,5 bilhões, cerca de US$ 5,2 bilhões a mais do que o previsto para o fechamento de 2012.

Entretanto, um dos economistas desta consultoria, Mariano Lamothe, explicou à IPS que é preciso ter cautela. “O próximo ano será melhor do que o atual, mas não acontecerá desta vez o empuxo registrado em 2010, depois que começou a crise de 2008-2009.” Após esta crise, com epicentro nos Estados Unidos e que depois se espalhou para a Europa, o produto interno bruto na Argentina cresceu apenas 0,9% em 2009 para chegar a 9,2% no ano seguinte, segundo dados oficiais.

“Nos últimos meses deste ano, veremos se tiramos o pé do freio, com a recuperação de algumas variáveis, mas para 2013 o crescimento econômico projetado será maior, de 3,5%”, disse Lamothe. “É que se houver pressão da demanda, haverá inflação e, se aumentarem as importações, haverá problemas na balança comercial e faltarão investimentos”, pontuou o especialista quanto ao ritmo da atividade começar a ser mais lento do que na década passada.

A economia argentina, após superar o fracasso do final de 2001, se expandiu a uma média anual entre 7% e 8% desde 2003, quando assumiu o governo o setor centro-esquerdista do Partido Justicialista, encabeçado primeiro por Néstor Kirchner (2003-2007) e depois por Cristina Fernández. A média, das mais altas do mundo, só foi afetada pelo freio de 2009.

Na atividade agropecuária, Paillole vive assim. Por um lado é um alívio o aumento do rendimento da colheita agrícola e dos preços, por outro há o temor da inflação, que estimativas de entidades privadas situaram em julho em torno dos 25% ao ano, e o estatal Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) em apenas 9,9%.Devido a dificuldades próprias e à prolongada crise econômico-financeira internacional, com epicentro na Europa, o ritmo da atividade se deteve na Argentina este ano depois de ter conseguido, em 2011, um dos maiores crescimentos do mundo, chegando a 8,9%, segundo o Indec.

A desaceleração é vista na indústria, que teve contração de 1,2% nos primeiros sete meses do ano, em relação a igual período de 2011, principalmente pela queda do setor automotivo, disse o Indec, órgão estatal cuja credibilidade foi questionada pela oposição política e consultorias privadas a partir da intervenção decretada em 2007 pelo governo. A produção de veículos, que liderava a atividade industrial, caiu 14,1% nos primeiros sete meses deste ano, comparado com igual período de 2011, e as exportações baixaram 38,4% no mesmo período.

Porém, essa produção cresceu 24,4% se comparar-se julho deste ano com o mês anterior, o que sugere o início de uma recuperação explicada por um aumento da demanda no Brasil, destino de 50% da produção local. A Abeceb considera que “o efeito Brasil” começará a ser sentido no último trimestre do ano. “É uma das chaves para que a Argentina possa voltar a ganhar impulso”, ressalta.

A soja é o cultivo estrela da produção agrícola do país. No ano passado, a Argentina sofreu com a falta de chuva, embora os preços tenham se movimentado também para a alta, devido à persistente demanda da China e, em particular, pela intensa seca que afetou os Estados Unidos, país que também é grande produtor deste grão. Para a próxima campanha, porém, projeta-se um bom nível de chuvas, e que os preços se manterão altos. A Argentina garante para 2013 um ponto percentual de aumento do PIB apenas com a soja, segundo a Abeceb.

Isso significa que nos cofres do Estado entrarão cerca de US$ 2,6 bilhões a título de impostos com as exportações (aqui chamadas de retenções) de soja, calcula a consultoria, o que permitiria cancelar os vencimentos de dívida de todo o ano sem usar reservas internacionais do tesouro. O economista Fausto Spotorno, da consultoria Orlando Ferreres e Associados, também admitiu que, após um primeiro semestre de queda na economia, “haverá um empuxo”, embora tenha alertado que será difícil sustentar essa tendência durante todo o ano que vem.

“A colheita para 2013 será melhor e o Brasil está dando sinais de recuperação, mas faltam investimentos pesados em energia, e isto leva muito tempo. Isto é, não vejo uma capacidade de expansão da economia no longo prazo”, detalhou à IPS. “Chegamos ao fundo e agora há um empuxo, mas o teto não está muito longe”, ressaltou Spotorno. Para este ano, mesmo com uma reativação de último momento, o economista prevê crescimento em torno de 1%, e para o próximo de aproximadamente 3%.

No seu último balanço, esta consultoria observa que o primeiro semestre de 2012 “não foi positivo. Embora a economia argentina não esteja em recessão e não seja um cenário de crise, a situação se deteriorou rapidamente”. Esta tendência, que segundo seus cálculos significou crescimento nulo do PIB no primeiro semestre, desacelerou, e há uma recuperação tímida, lenta, e não mais nos níveis de atividade alcançados em 2010.

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