• 25 de março de 2022
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Com apoio da ONU, agricultores do Haiti tentam construir resiliência ao clima

Padrões extremos de temperatura têm levado à perda de plantações e propriedade; maioria de incidentes é ligada a desastres naturais; situação causa crise de fome para grande parte dos haitianos que vivem no norte do país. O Programa Mundial de Alimentos, PMA, está ajudando o Haiti a construir ações para evitar e responder a consequências de desastres naturais no país.*


No norte da ilha caribenha, onde os haitianos são afetados por perdas de colheitas e outras consequências de temperaturas extremas, a agência da ONU decidiu reforçar projetos de resiliência ao clima.


Dados
Com os incidentes, muitos agricultores que vivem nessa área estão perdendo plantações e propriedades. E ainda mais grave, a grande maioria da população rural está enfrentando uma crise de fome.


Os dados são do IPC, ou Fase de Classificação da Segurança Alimentar Integrada. A entidade oferece uma visão panorâmica do nível de subnutrição no Haiti.


O programa é executado pelo PMA, pelo Governo do Haiti e parceiros, que têm apoiado pequenos produtores rurais na região a se recuperarem de um ciclo de secas e cheias. Muitos haitianos foram pagos para atuar em projetos semelhantes em suas comunidades.



Programa executado pelo PMA, pelo Governo do Haiti e parceiros têm apoiado pequenos produtores rurais na região a se recuperarem de um ciclo de secas e cheias
© PMA Haiti/Theresa Piorr
Programa executado pelo PMA, pelo Governo do Haiti e parceiros têm apoiado pequenos produtores rurais na região a se recuperarem de um ciclo de secas e cheias


Uma das beneficiadas, Mariette Samson, contou à ONU News que perdeu toda a colheita de feijão.


Família de 10
Segundo ela, quando a cheia ocorreu, os pequenos produtores rurais perderam tudo. Além dos feijões, ela ficou sem milho, banana, batatas, inhame e abóbora. A pequena horta ajuda a alimentar uma família de 10 pessoas.


Para reverter o prejuízo, a haitiana foi trabalhar na plantação de um vizinho, que lhe dá parte dos legumes. Com isso, três netos dela passaram a ter o que comer, mas só contam com uma refeição por dia.


A esperança de Mariette é de que as plantações vinguem até o fim deste ano, mas até lá, ela não tem como evitar que os filhos passem fome.


Já o agricultor haitiano, Marc Maglore, diz que evita o pior comendo beterraba todo domingo.


 



Uma das beneficiadas, Mariette Samson, contou à ONU News que perdeu toda a colheita de feijão
© PMA/Theresa Piorr
Uma das beneficiadas, Mariette Samson, contou à ONU News que perdeu toda a colheita de feijão


Chuvas
Vivendo numa terra fértil, em Limonade, ele tem dificuldade de irrigar as plantações apesar do volume forte de chuva. Com a parceria do Programa Mundial de Alimentos, eles estão cavando canais de irrigação em toda a terra. O projeto conta com o apoio de uma Associação de 200 pequenos produtores. Com isso, os campos de berinjela, repolho, espinafre, cebolinha e beterraba puderam ser salvos.


Marc conta que antes da iniciativa, e durante a seca, só era possível consumir uma refeição por dia, mas agora são três. Ele ainda consegue vender alimentos para sustentar a família. De uma família tradicional de agricultores, ele pretende instruir os filhos da mesma forma.


A parceria do governo do Haiti com o PMA conseguiu salvar ainda uma mangueira, importante para a família de Elie Devil.


Mudança Climática
Segundo ele, o vizinho decidiu cortar a árvore para fazer carvão, mas ao saber dos planos, ele conversou com o morador e falou que o desmatamento leva à erosão do solo o que prejudica principalmente os agricultores da localidade de Pitelle, onde ele vive.


Ele aprendeu sobre os danos do desflorestamento com o treinamento do PMA. Para Elie é preciso fazer mais na construção da resiliência ao clima e da proteção contra cheias, que causaram enorme destruição nos vales da região. O vizinho parou de falar com Elie, mas para ele, o mais importante foi salvar a mangueira.


A ONU News também ouviu a agrônoma do PMA, Rose Senoviala, que alertou para a destruição dos campos haitianos pela mudança climática.


Dentre as ações da agência da ONU estão medidas para mitigação que ajudam a controlar o fluxo de água pelas montanhas e a reabilitar a irrigação dos canais prevenindo a erosão. Cerca de 17.750 pessoas participaram dessas iniciativas no Haiti.


*Reportagem do correspondente da ONU News, Daniel Dickinson.


 

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