Emendas apresentadas por parlamentares a projeto de lei enviado pelo governo propõem recortar mais de 650 mil hectares de três áreas protegidas na Amazônia
Não foi por falta de aviso dos ambientalistas. Deputados federais voltaram a propor, num projeto de lei enviado pelo governo, o corte de mais de 650 mil hectares de unidades de conservação na Amazônia. As propostas, na forma de emendas a um projeto de lei enviado pelo Executivo à Câmara, devolvem à estaca zero uma discussão que o governo achava que já estivesse resolvida: a da redução da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.
O acordo de cavalheiros entre o Executivo e o Congresso era que o presidente Michel Temer primeiro vetaria as Medidas Provisórias que diminuíam as áreas protegidas e enviaria mais tarde um projeto de lei em caráter de urgência para recortar apenas a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, a unidade de conservação mais desmatada do país. No primeiro semestre, o Congresso havia aprovado duas MPs que, somadas, cortavam 600 mil hectares de três unidades de conservação no Pará e em Santa Catarina. Somente a Flona Jamanxim perderia 486 mil hectares.
O PL prometido, batizado 8.107, foi enviado à Câmara em julho. Ele propunha cortar 349 mil hectares do 1,3 milhão da área da Flona, além de tentar congelar o desmatamento nas propriedades que viessem a ser regularizadas na área cedida. O governo contava com um acordo com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) para aprovar o texto como estava e “pacificar” a região, palco de conflitos fundiários e de uma verdadeira guerra entre grileiros, madeireiros e o Ibama.
As emendas apresentadas pelos deputados ao projeto a ser votado no plenário da Câmara, porém, trouxeram a sensação de que já vimos esse filme. Elas voltam a ampliar a área a ser cortada da Flona do Jamanxim e incluem na redução de proteção unidades de conservação que não tem nada a ver com a história, como o Parque Nacional do Jamanxim e a Floresta Nacional de Itaituba II.
O parque perderia 31% da área de 862.895,27 para a criação das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Rio Branco (101.270 hectares) e de Carapuça (102.270 hectares ou 172.460 hectares, dependendo da emenda). Outros 71 mil hectares do parque seriam incorporados à Floresta Nacional do Trairão. A Floresta Nacional Itaituba II perderia 153.130 ha transformando-se na Área de Proteção Ambiental do Trairão.
APAs são a categoria de unidade de conservação com menor grau de proteção. Elas permitem propriedade privada, desmatamento, mineração e outros usos econômicos. A maior parte do território do Distrito Federal, por exemplo, é uma APA.