Crise da zona do euro pode aumentar buraco em investimentos climáticos
O aprofundamento da crise na zona do euro pode elevar para US$ 45 bilhões o déficit no financiamento de ações climáticas até 2015 ao passo que governos lutam para manter os níveis de investimento em meio a medidas de austeridade, estimou o Ernst & Young em um relatório divulgado na quinta-feira.
Mesmo com as atuais medidas de contenção de custos, é provável a insurgência de um déficit de US$ 22 bilhões nos investimentos em energias renováveis, tecnologias limpas e nos subsídios e medidas de corte nas emissões até 2015 em dez das maiores economias do mundo.
Os países seriam Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Itália, Japão, Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Coréia do Sul.
O relatório vem em antecipação ao encontro climático da ONU que inicia em 28 de novembro em Durban, onde negociadores trabalharão em um novo pacto global.
As expectativas são baixas para que seja acordado um sucessor para o Protocolo de Quioto. Também há questionamentos sobre a capacidade dos governos em alocar os US$ 100 bilhões anuais prometidos como ajuda aos países mais vulneráveis para lidar com as mudanças do clima.
“A enorme brecha de financiamento projetada por este relatório indica que a contínua incerteza econômica coloca a economia de baixo carbono ainda mais fora de alcance”, lamentou o chefe de sustentabilidade e mudanças climáticas globais da empresa, Juan Costa Climent.
A instabilidade na zona do euro tem levado a queda das bolsas de valores globais nos últimos meses. Mercados inquietos estão demonstrando dúvidas se o italiano Mario Monti e o grego Lucas Papademos conseguirão impor duras medidas de austeridade e reformas econômicas. Além disso, há um temor crescente que a França, segunda maior economia da zona do euro, esteja sendo sugada pela crise.
Se a crise piorar e levar a uma nova recessão, a Alemanha apresentaria o maior déficit de financiamento em termos absolutos, com US$ 8,3 bilhões, segundo o Ernst & Young.
Espanha, Japão e Estados Unidos teriam um déficit de mais de US$ 6 bilhões, enquanto Inglaterra e França cortariam mais de US$ 5 bilhões.
Sob as atuais medidas de austeridade, o buraco no financiamento climático seria pior na Espanha, Inglaterra e França até 2015.
A Espanha, onde o partido de centro-direita deve ganhar as eleições parlamentares de novembro, deve gastar US$ 5,2 bilhões a menos com as mudanças climáticas, a Inglaterra US$ 4,2 bilhões e a França US$ 2,9 bilhões, segundo o relatório.
O Ernst & Young disse que apenas 18% dos 300 líderes empresariais de grande multinacionais em mais de 50 países acreditam que um tratado climático deve emergir, mas 83% concordam que um acordo multilateral é necessário para mitigar as mudanças do clima.
“As condições sob as quais o encontro de Durban será realizado não poderiam ser mais desafiadoras”, comentou Climent.
“Sem um acordo global, ao invés de planejar como viver em uma economia restrita em carbono, a ênfase será em como viver em um mundo com um clima constrito”, completou.
Traduzido por Fernanda B. Muller, Instituto CarbonoBrasil