A Cúpula dos Líderes, convocada pelo presidente Joe Biden e aberta nesta quinta-feira (22/4), Dia da Terra, marca uma virada histórica na economia e na geopolítica mundiais. As três maiores potências globais — EUA, China e União Europeia — devem começar a travar uma corrida rumo à recuperação verde e à descarbonização econômica. A disputa pela hegemonia se dará num mundo cada vez menos dependente de combustíveis fósseis. A sinalização política foi dada pelos anúncios das novas metas de EUA, Japão, Canadá, Reino Unido e outros países, e uma sinalização do engajamento chinês com a redução do uso de carvão. Uma nova ordem mundial começa a emergir.
O Brasil escolheu ficar de fora. O país tem um dos ativos mais importantes dessa nova ordem, a Amazônia, mas o regime de Jair Bolsonaro prefere entregá-lo a grileiros de terra, garimpeiros, pecuaristas predatórios e madeireiros ilegais. Tem sol, vento e biocombustível à vontade, mas prefere subsidiar petróleo. Regride na ambição de suas metas climáticas para admitir mais desmatamento e mais emissões quando o Acordo de Paris começa enfim a ser levado a sério. No encontro, Bolsonaro apresentou um compromisso de redução de desmatamento que ele próprio havia eliminado das metas brasileiras e prometeu antecipar para 2050 um compromisso que o país jamais chegou a assumir formalmente – a neutralidade em carbono em 2060.
“O Brasil sai da cúpula dos líderes como entrou: desacreditado. Bolsonaro passou metade de sua fala pedindo ao mundo dinheiro por conquistas ambientais anteriores, que seu governo tenta destruir desde o dia da posse”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima
Bolsonaro fez uma opção deliberada pelo atraso num momento em que as vantagens comparativas do país poderiam atrair investimentos, emprego e qualidade de vida para os brasileiros. Espanto nenhum vindo de um líder que se aliou ao coronavírus contra a própria população, transformando o país num imenso cemitério.
Completa a ironia o fato de que a cúpula se realiza justamente no aniversário de um ano da infame declaração do ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro sobre aproveitar a comoção gerada pela pandemia para “passar a boiada”. Esta é a mais perfeita tradução da realidade brasileira neste momento de virada climática global: ver prestígio e recursos indo para outros países tropicais, enquanto ficamos com a Covid e o desmatamento. Ao perdedor, a boiada.