Davos deve discutir futuro dos preços dos alimentos
Fórum Econômico Mundial começa nesta semana e a questão da segurança alimentar diante da tendência de alta das commodities agrícolas e da necessidade de atender a demanda de 7 bilhões de pessoas deve ser um dos seus principais temas
As mudanças climáticas provavelmente não ganharão muito espaço nas mesas de discussão do Fórum Econômico Mundial, que começa nesta quarta-feira (25) em Davos, na Suíça, mas uma de suas consequências, o aumento do preço das commodities agrícolas, deve ser um dos tópicos mais debatidos.
O índice da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para 55 commodities alimentares subiu sem parar nos últimos seis meses, alcançando os 214.7 pontos. Uma tendência que pode se manter, ainda mais porque a entidade afirma que a produção de alimentos precisa crescer 70% até 2050 para atender a população mundial.
A alta do preço dos alimentos está relacionada a problemas climáticos, como estiagens, enchentes e padrões climáticos fora do que seria o ideal para várias culturas por todo o planeta. No ano passado a Rússia chegou a interromper sua exportação de grãos devido a uma seca severa, e a China se tornou pela primeira vez na história uma importadora de soja depois de uma série de enchentes.
“As pessoas pensam que as mudanças climáticas são um fenômeno que ocorre devagar, levando longos períodos de tempo para acontecer. O que não é verdade, já presenciamos efeitos prejudiciais delas para a economia mundial”, afirmou Garvin Jabush, do grupo de investimentos Green Alpha Advisors, à rede norte-americana CNBC.
Em Davos, líderes mundiais terão que achar espaço entre as conversas sobre o futuro econômico da União Europeia para debater políticas que multipliquem a produção de alimentos e assegurem o acesso dos mais pobres à comida.
“A Agricultura será uma parte importante de qualquer discussão internacional daqui para frente. Sabemos que a atividade pode ser aprimorada, inclusive para emitir menos gases do efeito estufa”, declarou Molly Jahn, professor de agronomia da Universidade do Wisconsin.
O Fórum Econômico Mundial pode tentar se espelhar no recente projeto anunciado pela FAO em conjunto com a Comissão Europeia, que promete ajudar Malauí, Vietnã e Zâmbia na transição para uma abordagem de “clima inteligente” para a agricultura.
“O aumento da preocupação de como alimentar o crescimento populacional esperado para as próximas décadas deve ser encarado também como uma oportunidade para avanços científicos, prevejo que teremos uma grande explosão de iniciativas agrícolas inovadoras em 2012”, disse Jabush.
Carne Artificial
Propostas de como alimentar uma população mundial estimada em nove bilhões de pessoas em 2050 são muitas, como os transgênicos, a irrigação de áreas desérticas e até o aumento do uso de insetos nos pratos cotidianos. Entre todas essas, uma das mais ambiciosas é a de carne criada em laboratório.
Para atender a demanda crescente de cada vez mais pessoas saindo da miséria com o desenvolvimento de países emergentes, a expansão da pecuária vem provocando grande desmatamento e a criação intensiva pode não ser uma opção, por causa de seus custos e do stress que causa nos animais.
Assim, novas formas de produzir carne seriam muito benvindas. Tanto que o grupo de proteção animal Peta lançou há cinco anos um concurso com a promessa de premiar com US$ 1 milhão qualquer cientista que até 30 de junho de 2012 apresentasse a carne artificial de uma galinha.
“Existe a chance real de que alguém vá receber o prêmio. Muitos pesquisadores estão fazendo progressos e estamos bastante otimistas”, afirmou Ingrid Newkirk, fundadora da Peta.
Uma prova de que esse campo do conhecimento está realmente crescendo são os estudos da Universidade de Maastricht, na Holanda, com células-tronco para a produção de alimentos. De acordo com o pesquisador Mark Post, o primeiro hambúrguer artificial será apresentado até o fim deste ano.
A Universidade de Utrecht, também na Holanda, trabalha com o mesmo método de células-tronco, que possuem o potencial de gerar toneladas de carne com as células de um único indivíduo.
“Porém, todo o processo é muito complexo e difícil. Não conseguimos cultivar células de embriões, apenas de animais adultos e ainda não somos eficientes nisso. Acredito que precisamos de mais uma década de pesquisas e de mais recursos”, afirmou Bernard Roelen, professor de ciência veterinária em Utrecht, ao The Guardian.
De acordo com uma pesquisa publicada no periódico Environmental Science & Technology em junho passado, a carne artificial seria um avanço sem precedentes para a alimentação mundial. Com relação ao modelo convencional, a produção de carne em laboratório precisa de 96% menos água, 99% menos terra e resulta na redução de 78% a 96% das emissões de gases do efeito estufa.