Derretimento de gelo polar triplica em 20 anos
Quando se trata do derretimento do gelo polar, sempre houve pesquisas contraditórias sobre a intensidade do degelo e se ele realmente estava ocorrendo, o que servia de combustível para os céticos climáticos refutarem o aquecimento global. Mas um novo estudo promete acabar com essa dúvida, e afirma que a perda de gelo vem acelerando nos últimos anos.
Segundo a pesquisa, levando em consideração todas as alterações na massa de gelo da Antártida e da Groenlândia, os polos têm perdido gelo, e a uma velocidade três vezes maior do que antes de 1992. Os cálculos mostram que, nos últimos 20 anos, quatro trilhões de toneladas de gelo foram perdidas.
Apesar de certas áreas da Antártida estarem ganhando gelo, no geral a massa perdida pelos dois polos é pelo menos duas vezes maior do que a massa ganha. “Podemos dizer definitivamente que tanto a Groenlândia com a Antártida estão perdendo massa, e à medida que a temperatura sobe vamos perder mais gelo”, afirmou Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds.
Esse derretimento mais intenso está contribuindo cada vez mais para o aumento do nível dos oceanos, que nas últimas duas décadas subiu 11 mm. Pra se ter uma ideia, antes de 1992 o degelo contribuía com cerca de 20% do aumento do nível do mar; agora, esse índice subiu para aproximadamente 40%.
Outros fatores que contribuem para a elevação do mar são a expansão da água causada pelas temperaturas mais quentes e o derretimento de mantos de gelo ou geleiras fora dos polos, como as que fazem partes de cordilheiras.
“As estimativas são as mais confiáveis até agora, e acabam com 20 anos de incertezas sobre as mudanças na massa de gelo na Antártida e Groenlândia. Houve 30 estimativas diferentes da contribuição no aumento do nível do mar, oscilando de um aumento anual de dois mm a uma queda de 0,4 mm”, comentou Shepherd.
“As mudanças climáticas provavelmente acelerarão muito a perda de gelo. Na Groenlândia, estamos vendo perdas realmente dramáticas no gelo, mas ainda é incerto se elas diminuirão, ficarão iguais ou acelerarão mais”, acrescentou Ian Joughin, da Universidade de Washington.
De acordo com os cientistas, mesmo uma pequena mudança no nível do mar pode ser uma ameaça para áreas baixas, principalmente durante a ocorrência de desastres naturais. “Áreas baixas precisam considerar a infraestrutura agora. Londres terá que construir uma nova barreira contra enchentes no próximo século. Levaria 30 anos pra construir, então o planejamento precisa começar logo”, observou Shepherd.
Por isso, os pesquisadores enfatizaram a importância do estudo e como ele poderá contribuir para o entendimento da influência das mudanças climáticas no nível dos oceanos e para a prevenção de acidentes.
“Esse projeto é uma realização espetacular. Os dados apoiarão testes essenciais de modelos preditivos, e levarão a um melhor entendimento de como as mudanças no nível do mar podem depender de decisões humanas que influenciam as temperaturas globais”, concluiu Richard Alley, da Universidade Estadual da Pensilvânia, que não estava envolvido na pesquisa.