Bioma semiárido mais biodiverso do mundo sofre com ocupação humana e desertificação. MMA promove ações para reduzir impactos.
Mandacaru, xique-xique, veado-catingueiro, asa branca, soldadinho-do-araripe, arara-azul-de-lear... Os nomes de plantas e animais são a melhor tradução da riqueza natural da Caatinga, o bioma semiárido mais biodiverso do mundo e o único exclusivamente brasileiro.
São 932 espécies de vegetais, 178 de mamíferos, 590 de aves, 241 de peixes. Muitas delas são endêmicas, ou seja, só existem no local. E, o pior, algumas estão ameaçadas de extinção.
Neste sábado (28), comemora-se o Dia Nacional da Caatinga. "É o momento para refletirmos sobre a importância de avançarmos na agenda de conservação desse que é o terceiro maior bioma brasileiro e o principal do Nordeste", diz o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Pedro de Oliveira Costa.
Para marcar a data, o MMA promove, entre outros eventos, o 1º Dia de Campo sobre a implantação de Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas e Redução da Vulnerabilidade Climática (Urad), nesta sexta (27), em Sergipe.
ECOSSISTEMAS
A Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional. Abrange áreas dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais.
Vinte e sete milhões de pessoas vivem atualmente na região, o que causa forte impacto sobre os recursos naturais. Nada menos que 80% dos ecossistemas originais foram alterados, principalmente por meio de desmatamentos e queimadas, em um processo de ocupação que começou nos tempos do Brasil colônia.
Ainda hoje, grande parte da população da Caatinga utiliza os recursos da biodiversidade para sobreviver. Por outro lado, esses mesmos recursos, se conservados e explorados de forma sustentável, podem impulsionar o desenvolvimento da região.
A partir dessa visão, que busca conciliar a preservação com o uso sustentável, o governo federal promove, por meio do Ministério do Meio Ambiente, um conjunto de ações para proteger o bioma.
Entre elas, destacam-se 25 unidades de conservação (UCs) federais que, juntas, guardam 4 milhões de hectares de Caatinga. As mais recentes, criadas em abril, são a Área de Proteção Ambiental e o Parque Nacional do Boqueirão da Onça. "Estamos todos muito felizes pela recente criação do Parque Nacional e da Área de Proteção Ambiental do Boqueirao da Onça com quase um milhão de hectares na área hoje mais preservada da Caatinga", destaca o secretário de Biodiversidade.
BOQUEIRÃO DA ONÇA
Com 345.378 hectares, o parque é a segunda maior UC de proteção integral do bioma. Junto com a APA, forma um grande mosaico que, além de possuir grande variedade de ambientes, abriga animais endêmicos e em risco de extinção, entre eles, a onça-pintada, o maior felino das Américas. A onça tem no Boqueirão um de seus principais refúgios.
A APA, que é uma UC de uso sustentável, tem mais de meio milhão de hectares e permite a exploração de atividades produtivas, como o turismo ecológico. A ideia é propiciar emprego e renda para populações tradicionais, como quilombolas e comunidades de fundo de pasto (que se caracterizam pela posse e uso comunitário da terra).
A conservação da Caatinga está intimamente associada ao combate à desertificação, processo de degradação ambiental que ocorre em áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas. No Brasil, 62% das áreas susceptíveis à desertificação estão em zonas incluídas no bioma, sendo que muitas já estão bastante alteradas.
CONVENÇÕES
No contexto internacional, a Caatinga está relacionada diretamente a duas das três principais convenções de meio ambiente no âmbito da Organização das Nações Unidas - a Convenção de Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção de Combate à Desertificação (CCD).
Esse contexto pode ajudar na conservação do bioma. O MMA, por meio das secretarias de Biodiversidade e de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, trabalha, junto com parceiros, no sentido de agilizar a implantação das duas convenções no país.
A proteção da Caatinga tem ainda ligação com a mudança do clima que, entre outras coisas, causa a redução do volume das chuvas e, em consequência, a dificuldade de recarga dos aquíferos - fator decisivo para acelerar o processo de desertificação. Tudo isso alerta ainda mais a sociedade para a importância de se conservar o bioma.