Secretário-geral da ONU alertou para ameaças, violência e degradação que afetam terras ancestrais indígenas; tribo no Brasil traz exemplo de manejo florestal alinhado com desenvolvimento local; conhecimento comunitário e intergeracional oferece soluções valiosas para esforços de mitigação, estratégias de adaptação e resiliência.
Os povos indígenas representam cerca de 6% da população mundial. Para o secretário-geral da ONU, eles são “os guardiões do conhecimento e das tradições” que ajudam a proteger algumas das zonas com maior biodiversidade do planeta.
António Guterres prestou homenagem à população indígena por mensagem de vídeo, divulgada neste 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas.
Terras ancestrais “sob cerco”
No entanto, o líder da ONU destacou que o grupo é frequentemente vítima de ameaças e violência. Ele sublinhou que setores extrativos e produtivos, como mineração, agricultura e transportes, aceleraram o desmatamento e a degradação dos solos.
Como resultado as terras ancestrais e os recursos naturais dos quais os povos indígenas dependem para sobreviver estão “sob cerco”, disse Guterres.
O secretário-geral afirmou que o direito à autodeterminação, consagrado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, “ainda não foi cumprido”. Ele disse que é hora de apoiar o direito dessa população a traçar o próprio futuro.
Exemplo positivo em tribo no Brasil
Nesse sentido, um exemplo positivo mencionado pela ONU vem do Brasil, da etnia Puyanawa, uma das 15 que habitam o estado do Acre. Cerca de 93% do território deste povo indígena é coberto por florestas.
O líder da tribo, Joel Puyanawa, explica que a tribo recorreu à agricultura, utilizando práticas tradicionais, como pontilhar os campos com árvores de madeira dura, para aliviar o peso na terra.
Segundo ele, há “um trabalho extra sim, mas é exatamente para preservar o que há de mais sagrado”. O líder indígena disse que se uma floresta for derrubada, “ela nunca se recuperará”.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, por meio dessa estratégia os Puyanawa estão provando que a sustentabilidade e o crescimento econômico podem andar de mãos dadas.
Reviravolta do desmatamento para o manejo florestal
Mas nem sempre foi assim. Durante gerações, o desmatamento de mata virgem foi uma prática comum entre os Puyanawa. A tribo foi atacada no início do século 20 por colonos interessados ??em extração de borracha para fabricar pneus para a crescente indústria automotiva mundial.
Muitos Puyanawa foram mortos durante confrontos por suas terras ou morreram de doenças. Aqueles que sobreviveram foram muitas vezes forçados a trabalhar em plantações nas suas próprias terras.
Em 2001, quando o governo brasileiro começou a fortalecer os direitos às terras indígenas, os Puyanawa começaram a recuperar suas tradições, como sua língua, suas práticas espirituais e suas técnicas de manejo florestal.
Todos os anos, o mundo perde cobertura florestal do tamanho de Portugal, com grande parte desse desmatamento ocorrendo em 20 países tropicais, incluindo o Brasil. Para o Unep, técnicas tradicionais dos Puyanawa são como um “antídoto para a extração desenfreada de recursos” que está dizimando as florestas tropicais.
Conhecimento indígena na luta contra crise climática
Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, afirma que o conhecimento indígena é crucial na luta contra as mudanças climáticas.
Segundo a agência, os povos indígenas são guardiões de sistemas de conhecimento, inovações e práticas únicas que foram transmitidas de geração em geração e permitiram que diferentes culturas e comunidades em muitas partes do mundo vivessem de forma sustentável.
Por causa de seu conhecimento ecológico, que é intergeracional e comunitário, os povos indígenas foram os primeiros a notar os primeiros sinais das mudanças climáticas.
Agora, mais do que nunca, à medida que a crise do clima se intensifica, os conhecimentos e práticas indígenas oferecem soluções valiosas para esforços de mitigação, estratégias de adaptação e resiliência.