Discurso da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou que quase metade dos minerais da transição energética estão em territórios de povos tradicionais; ela defendeu participação indígena “concreta” em negociações ambientais internacionais, como a COP30.
Começou nesta segunda-feira em Nova Iorque o Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas, que vai até 26 de abril e reúne mais de 2 mil participantes.
O maior encontro anual global de povos indígenas destaca o direito à autodeterminação e as vozes da juventude.
Guardiões de 80% dos recursos naturais
Em seu discurso na abertura do evento, o presidente da Assembleia Geral, Dennis Francis, afirmou que “teremos falhado lamentavelmente na realização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS, se ignorarmos a situação dos povos indígenas ou negligenciarmos a defesa dos seus direitos e dignidade e, além disso, a promoção do seu bem-estar”.
Francis afirmou que temos muito a aprender com os Povos Indígenas, “que há muito provaram ser guardiões responsáveis ??dos recursos naturais do planeta e que, felizmente, preservam 80% da biodiversidade remanescente no mundo”.
Ele citou como exemplo a integração de conhecimentos indígenas tradicionais e inovações nas práticas agrícolas e florestais que podem oferecer benefícios de longo alcance para todos, incluindo o combate às alterações climáticas e à insegurança alimentar.
Com base na contribuição de longa data para a sustentabilidade das comunidades indígenas em todo o mundo, Francis afirmou que “todos temos a responsabilidade coletiva de garantir que as nossas ações não prejudiquem os ecossistemas dos quais os povos indígenas, em particular, dependem, bem como todos nós”.
Se dirigindo aos participantes, o presidente da Assembleia Geral fez um apelo para que as vozes dos povos indígenas sejam ouvidas e realmente atendidas.
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Brasil defende transição energética liderada por indígenas
A ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também participou da abertura do Fórum, destacando a importância para os povos indígenas da COP 30 sobre Mudanças Climáticas no Brasil e da COP16, da Biodiversidade, na Colômbia.
Ela reforçou a importância dos povos indígenas nas negociações ambientais, destacando que “falta muito para essa importância resultar em participação concreta”. A ministra disse que é preciso ter “a melhor e maior participação indígena” durante a COP30.
“Estamos cientes de que algo próximo da metade dos minerais da transição energética estão em nossos territórios, assim como boa parte do potencial de energia renovável. Não se pode permitir que isso leve a mais violações. Podemos pensar em estratégias políticas e projetos de energia renovável liderados por indígenas, como elementos integrais da transição energética”.
Segundo a ministra, essa abordagem irá trazer “capacitação econômica e coesão social” para os povos indígenas. Ela destacou que o racismo ambiental e o negacionismo climático irão crescer na medida em que aumentem as desigualdades sociais causadas pelas alterações climáticas.
Demarcação e regularização dos territórios
Por isso, Sonia Guajajara mencionou a importância da redução dos combustíveis fosseis, mas lembrou que “demorou até a COP 28 para que isso entrasse nos documentos oficiais”.
Ela afirmou que é “hora de colocar a demarcação e regularização” dos territórios indígenas, valorizar os conhecimentos tradicionais como conhecimento científico e o papel que eles têm na reforma nos sistemas alimentares.
A ministra defendeu ainda o protagonismo dos povos indígenas como tomadores de decisão em espaços nacionais e internacionais e pediu por mais ministérios dos povos indígenas em outros países. Ela afirmou que é hora de “reflorestar mentes” e concluiu o discurso fazendo votos de “que o mundo nunca mais caminhe sem a participação e os conhecimentos indígenas”.
Abordagem biocêntrica
Também na cerimônia de abertura, o vice-presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, David Choquehuanca, destacou o papel dos povos indígenas em colocar o planeta em primeiro lugar. Ele afirmou que “devemos fazer a transição de uma abordagem antropocêntrica para uma biocêntrica para garantir que os jovens tenham uma mãe Terra mais saudável para as gerações futuras”.
Segundo Choquehuanca Isto exige o redirecionamento de recursos financeiros “diretamente para as mãos dos povos indígenas, os administradores da biodiversidade do nosso planeta".
Conforme estipulado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, o acesso ao financiamento é um componente chave para garantir o direito à autodeterminação e para permitir que os Povos Indígenas façam melhor valer os seus direitos e alcancem desenvolvimento econômico, social e cultural.