• 22 de junho de 2016
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Escassez de água prejudica Ásia ocidental

Somente quatro dos 12 países da Ásia ocidental estão acima do limite da escassez de água, de mil metros cúbicos por pessoa ao ano, o mínimo viável para um ser humano.

“A escassez de água potencialmente poderia ter maior impacto nas qualificações de crédito soberano do que as catástrofes naturais, já que as condições de escassez de água demoram a aparecer”, apontou Moritz Kraemer, diretor-gerente da agência qualificadora Standard & Poors Global Ratings.

“A escassez de água, a migração e os conflitos ainda não são levados em conta para a Análise da Integração do Risco Ambiental ao Crédito Soberano (Erisc), mas certamente temos que fazê-lo”, opinou Kraemer.A Erisc pretende ajudar as instituições financeiras a integrarem os riscos ambientais às suas avaliações de risco e às decisões de investimento, mediante a identificação e quantificação da forma em que podem afetar o rendimento econômico dos países e, portanto, o custo do crédito no mercado da dívida soberana.

A análise parte da base de que o risco soberano pode ser materialmente afetado por riscos ambientais como a mudança climática, escassez de água, degradação dos ecossistemas e o desmatamento.“Até o momento não temos dados suficientes sobre as possíveis consequências econômicas da escassez de água ou da mudança nos padrões de chuva para simularmos numericamente o resultado, mas sabemos que os países com grandes problemas hídricos terão repercussões muito além de suas fronteiras, o que desatará movimentos migratórios, para começar. A Europa é um exemplo”, alertou Kraemer.

A Ásia ocidental é importante geopoliticamente porque vincula África, Ásia e Europa.“A Jordânia era, em 2013, o quarto país com maior escassez de água do mundo, mas em apenas dois anos, em 2015, sua situação se deteriorou e foi para o segundo lugar quando centenas de milhares de refugiados sírios e iemenitas emigraram” para o reino jordaniano, explicou Carl Bruch, do Instituto de Direito Ambiental, com sede em Washington.

“Muitas das economias com problemas hídricos, como Jordânia e Marrocos, já têm baixas qualificações de crédito. Ainda é necessárioinvestigarmais”, ressaltouKraemer à IPS, por ocasião da segunda Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada no final de maio em Nairóbi, onde ministros de todo o mundo se reuniram para tomar decisões sobre a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

“Existe uma estreita ligação entre os problemas políticos e sociais derivados do deslocamento, mas o fato de as pessoas decidirem se trasladar, em última instância, se deve frequentemente a problemas ambientais, cada vez mais em razão da escassez de água que se repete muito na Ásia ocidental”, destacou Jacqueline McGlade, diretora de Alerta e Avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

A degradação do solo, a desertificação e a escassez de recursos hídricos renováveis são os problemas mais graves da Ásia ocidental, na medida em que os conflitos afetam diretamente o ambiente e a saúde, o que prejudica a capacidade de a região produzir alimento suficiente para sua crescente população, especialmente na sub-região de Mashreq, que inclui Iraque, Jordânia, Líbano, os territórios palestinos ocupados, Síria e Iêmen, segundo a sexta Perspectiva de Meio Ambiente Mundial (GEO-6), divulgada em maio pelo Pnuma.

Com o aumento da demanda, a Ásia ocidental agora enfrenta a deterioração da qualidade da água devido à superexploração das águas subterrâneas, invasão marinha, esgotamento e salinização dos aquíferos, além do aumento dos custos para bombear. A região já superou sua capacidade natural para atender sua própria demanda de alimentos e água.

Embora as prioridades da região sejam paz, segurança e ambiente, o ciclo vicioso da degradação, consequência e motivo dos conflitos, pode impedir que as pessoas regressem para suas casas e normalizem suas vidas e, ao mesmo tempo, a economia, destacou Daria Mokhnacheva, especialista da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

“A maioria dos refugiados dos conflitos no Iraque não poderá voltar para suas casas e normalizar suas vidas, embora seja o que desejem, se antes forem retiradas as minas e munições sem explodir colocadas no que costumavam ser seus terrenos. E a eliminação das minas pode demorar décadas”, acrescentou Mokhnacheva.

Por outro lado, embora o Iraque tenha a maior superfície de terras de cultivo disponíveis na região, é o país que mais sofre com a salinidade do solo e a erosão eólica. Cerca de 97% do território iraquiano é árido, a desertificação afeta 39% do total, e 54% está sob ameaça, segundo a GEO-6.

“Os agricultores e pastores tradicionais podem permanecer nos acampamentos temporários durante anos, e estes, se estão em áreas com escassez de água ou propensão à seca, poderão provocar numerosos deslocamentos”, pontuou o especialista da OIM.Segundo ele, “a migração para zonas urbanas destrói seus estilos de vida, costumes e formas de vida por completo, o que aumenta a vulnerabilidade. Com uma estada de longo prazo nos acampamentos, as meninas e mulheres se convertem em alvo dos traficantes, e meninas até nove anos de idade são obrigadas a casar para reduzir a pressão por alimentos”.

“Temos evidência da Ásia ocidental de que a transição das áreas rurais para as urbanas começa a semear as sementes do deslocamento que, em última instância, pode levar aos conflitos”, alertou McGlade. “Assim, o verdadeiro problema para a governabilidade ambiental é se podemos detectar com suficiente antecedência as condições em que é provável falhar a segurança alimentar ou hídrica, e se podemos identificar esses pontos críticos para tomar medidas preventivas e as pessoas não abandonem as terras”.

“Já vimos três milhões de pessoas procedentes da Síria e do Iêmen em movimento rumo à fronteira com a Jordânia. Esse êxodo poderia ter sido evitado?”, perguntou McGlade.Para Mokhnacheva, “devemos integrar a investigação sobre as migrações e o ambiente com aquela sobre a vulnerabilidade social, a fim de identificar os pontos críticos de forma precoce. Também temos de melhorar a evidência local para informar às políticas de migração que podem responder às necessidades reais”.

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