• 12 de junho de 2019
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Everest, lixo no topo do mundo

A montanha de 8.850 metros de altitude, a mais alta do mundo estão repletas de excremento humano, cilindros de oxigênio usados, barracas rasgadas, cordas, escadas quebradas, latas e plásticos deixados pelos alpinistas, um constrangimento para um país que obtém uma renda valiosa das expedições ao Everest. O ser humano deixa seu rastro até no topo do mundo, um alpinista que acha que vai encontrar neve imaculada no Everest pode ter uma surpresa desagradável, a  montanha tem toneladas de resíduos.

Desde o surgimento das expedições comerciais nos anos 1990, disparou o número de pessoas que escalaram a montanha de 8.850 metros de altitude. Este ano, somente na alta temporada, pelo menos 600 alpinistas alcançaram seu cume. Mas essa popularidade tem consequências. Os montanhistas, que gastam muito dinheiro para realizar a emblemática subida, às vezes prestam pouca atenção à sua pegada ecológica. Pouco a pouco, com uma cordada após a outra, os resíduos vão manchando o Everest.

As autoridades já tomaram algumas medidas para impedir a poluição. Há cinco anos o Nepal pede uma fiança de 4.000 dólares (15.600 reais) por expedição, que reembolsa se cada alpinista do grupo trouxer de volta pelo menos oito quilos de dejetos. No lado tibetano da montanha, menos frequentado, as autoridades exigem a mesma quantidade e impõem multa de 100 dólares (390 reais) por quilo faltante.

Mas o principal problema é o desleixo dos visitantes, ao qual se soma o fato de que algumas autoridades fecham os olhos em troca de um pequeno suborno. Não existe vigilância suficiente nos acampamentos para assegurar que a montanha continue limpa.

Os defensores do meio ambiente também temem que a poluição do Everest afete os rios do vale situado mais abaixo. No momento, os excrementos dos alpinistas do acampamento-base são transportados até a cidadezinha mais próxima, a uma hora a pé, onde são jogados em fossas,depois acabam sendo arrastados rio abaixo durante as monções.

Ang Tsering Sherpa, ex-presidente da Associação de Alpinismo do Nepal, acha que uma das soluções poderia ser a criação de equipes dedicadas unicamente à coleta de dejetos. Sua operadora, a Asian Trekking, que insiste no lado ecológico de suas expedições, recolheu 18 toneladas de resíduos na última década, além dos oito quilos por membro da expedição. “Não é um trabalho simples”, diz Ang Tsering Sherpa. “O Governo tem de estimular os grupos para limpar e aplicar as regras com mais rigor."



Entre os meses de abril e maio deste ano de 2019,uma equipe de limpeza de 20 alpinistas sherpas recolheu cinco toneladas de lixo em vários campos situados acima do acampamento base e outras seis toneladas de áreas abaixo, disse Dandu Raj Ghimire, diretor-geral do Departamento de Turismo. O lixo, assim como os corpos de cerca de 300 pessoas que morreram ao longo dos anos nas encostas do Everest, fica soterrado debaixo da neve durante o inverno, mas se torna visível no verão, quando a neve derrete. As autoridades do Nepal afirmaram que a operação de limpeza foi um sucesso, mas reconheceram que ainda falta recolher mais lixo da montanha. Foram anos de descaso, resultado do enorme comércio turístico, que por muitas vezes irresponsável, em torno da montanha. 





Trabalhadores carregam o lixo recolhido no Monte Everest: alpinistas abandonam excrementos humanos, garrafas de oxigênio usadas, barracas, cordas, escadas, latas e embalagens de plástico (Navesh Chitrakar/Reuters)



Amanda Carolina


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