Exploração dos oceanos deve ser repensada, dizem cientistas
Pesquisadores de diversos centros científicos se reuniram no último domingo (16) no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência para alertar sobre o atual ritmo de exploração dos oceanos e pedir por uma nova administração dos recursos marinhos.
Segundo os cientistas, nos últimos 50 anos a população mundial dobrou e a demanda global de energia quadruplicou, o que acabou por levar a uma industrialização em massa de diversos setores, exercendo uma pressão muito maior sobre os oceanos e seus recursos.
Um exemplo disso é o setor pesqueiro, que aumentou o uso de práticas de pesca altamente nocivas, como redes submarinas, para elevar sua produtividade, levando diversas espécies de peixes e outros animais marinhos à ameaça de extinção.
Outro setor que também prejudica fortemente os oceanos é o de exploração de petróleo e gás natural no fundo do mar, já que essa atividade tem o potencial de gerar grandes catástrofes, como vazamentos de petróleo em ecossistemas marinhos.
“A exploração de petróleo e gás tem como alvo rotineiro o leito dos mares a mais de mil metros de profundidade”, observou Lisa Levin, que lidera o Centro para Biodiversidade Marinha e Conservação do Instituto Scripps de Oceanografia na Califórnia.
Atualmente, há cerca de duas mil plataformas de perfuração em leitos de oceanos, “trazendo consigo o potencial para desastres ambientais do tipo que vimos com a Deepawater Horizon”, continuou Levin, se referindo ao vazamento da BP em 2010 no Golfo do México (imagem).
Contudo, os cientistas afirmam que há setores potencialmente prejudiciais aos oceanos, como o de metais e minérios, que, por serem incipientes, ainda têm a chance de desenvolverem abordagens menos danosas para explorar os recursos oceânicos.
Por exemplo, atualmente o leito dos oceanos é alvo da exploração de metais e minerais, em parte devido à grande demanda dos dispositivos de tecnologia moderna, como celulares e carros híbridos. Grandes áreas submarinas foram licenciadas para permitir a prospecção de manganês, cobalto e sulfuretos para esse fim.
“O fundo dos oceanos é um vasto repositório de recursos, e olhando em longo prazo – as próximas centenas de anos, digamos – nós quase certamente iremos até lá para minerar. Mesmo se alguns depósitos não são atualmente economicamente viáveis, eles provavelmente o serão daqui a 50 anos”, comentou Levin.
“O que estamos tentando dizer é que precisamos fazer isso de uma forma responsável, e se vamos extrair esses recursos, precisamos fazê-lo com o mínimo de danos aos ecossistemas, e agora é a hora de começar a pensar como faremos isso”, acrescentou.
A pesquisadora sugere que haja cooperação internacional para isso e que entidades científicas desenvolvam uma nova forma de gestão do fundo dos oceanos. “O momento mais eficiente de fazer uma gestão ambiental é antes que a mineração comece. Essa mineração ainda não começou, e se queremos ter regulamentações ambientais realmente progressistas, precisamos fazer isso agora”, argumentou Levin.
“A gestão ambiental precisa ser instruída pela ciência, e essa ciência precisa de apoio de agências internacionais e nacionais para fazer isso acontecer. Não é barato trabalhar no fundo do mar”, concluiu ela.