Pesquisa mostra que, ao longo das últimas duas décadas, cerca de 15 mil espécies de plantas e animais vertebrados foram impactadas por incêndios florestais e queimadas
Um estudo inédito publicado nesta quarta-feira (01) na revista Nature mostrou que o processo de degradação ambiental da Amazônia provocado pela ação humana entre os anos de 2001 e 2019 já afetou mais de 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidas da Amazônia – e que as políticas de proteção ambiental têm um impacto direto neste cenário. De acordo com o grupo de pesquisadores, as atlas taxas de desmatamento e os quase 190 mil km2 de floresta que queimaram durante o período analisado já alteraram, por exemplo, o habitat de 85,2% das espécies de plantas e animais ameaçadas de extinção na região.
Conforme lista da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), daquelas em risco de extinção, foram impactadas pelo desmatamento e pelas queimadas durante o período da análise 236 das 264 espécies de plantas, 83 das 85 espécies de pássaros, 53 das 55 espécies de mamíferos, 5 das 9 espécies de répteis e 95 das 107 espécies de anfíbios. O impacto é também muito significativo nas espécies endêmicas, ou seja, aquelas que tem distribuição restrita: “Essas espécies, quando tem seu habitat alterado, podem sofrer muito mais e têm um maior risco de entrar em extinção”, afirma Paulo Brando, professor da Universidade da Califórnia em Irvine e pesquisador do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Ele é coautor do estudo, liderado por Xiao Feng, da Florida State University.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores combinaram mapas de distribuição de mais de 11 mil espécies de plantas e mais de 3 mil animais vertebrados com registros de satélite de ações provocadas pelo homem no período analisado.
“O fogo é um agente muito importante de mudança da biodiversidade da Amazônia, e está diretamente atrelado ao desmatamento. Quanto mais áreas desmatadas, mais focos de calor são registrados. A gente pode dizer que esse estudo mostra o efeito direto e também indireto do desmatamento, que é o de tornar as florestas mais inflamáveis”, explica Brando.
Os cientistas indicam, ainda, que as políticas ambientais implementadas ao longo dessas duas décadas tiveram impacto direto neste cenário. No início dos anos 2000, por exemplo, as taxas de desmatamento estavam muito elevadas, com poucas medidas governamentais efetivas para a redução do desmatamento. “A partir 2008 (quando uma série de políticas voltadas à redução do desmatamento foram implementadas), começamos a ver uma mudança neste processo, efeitos já aparecendo nos anos seguintes”, explica Brando.
No entanto, o relaxamento dessas medidas, que foi observado com mais intensidade a partir dos primeiros meses de 2019, começou a reverter o cenário e a comprometer os anos de progresso. Somente no primeiro ano do governo Bolsonaro, por exemplo, mais de 10 mil km² da região (uma área quase do tamanho da Jamaica) foi afetada por incêndios florestais. A cada novos 10 mil km² de floresta queimada, estimam os pesquisadores, até 40 espécies a mais podem ser prejudicadas.