Geleiras da Patagônia estão derretendo mais rapidamente desde 2000
Uma nova análise do Centro de Estudos Científicos (CECs) de Valdívia, Chile, da Universidade Cornell, Estados Unidos, e da NASA, publicada nesta quarta-feira (5) no periódico Geophysical Research Letters, revelou que a taxa de derretimento das geleiras da Patagônia está maior nos últimos 12 anos, e que tal aceleração foi causada em grande parte pelo aquecimento global.
Mapeando a área através do Radiômetro Espacial Avançado de Emissões Térmicas e Reflexão (ASTER) e dos satélites de Experimento de Clima e Recuperação de Gravidade (GRACE), os cientistas descobriram que os campos de gelo do norte e do sul da Patagônia, os dois maiores no Hemisfério Sul depois da Antártida, estão encolhendo cerca de 1,8 metros por ano desde 2000, o que faz a região apresentar um dos maiores índices de derretimento do mundo.
“A Patagônia é como uma garota-propaganda dos sistemas glaciais que estão mudando rapidamente. Estamos caracterizando-a como uma região que está fornecendo água para o mar em uma alta velocidade comparada ao seu tamanho”, afirmou Michael Willis, da Universidade Cornell.
Segundo a pesquisa, entre 1975 e 2000 ambos os campos contribuíam com o aumento do nível do mar em 0,042 mm por ano, mas nos últimos 12 anos essa taxa subiu para 0,067 mm anuais, um aumento de 50%.
Isso significa que só o campo do sul da Patagônia perde aproximadamente 20 bilhões de litros de água por ano, o que, em 12 anos, seria o suficiente para cobrir toda a superfície dos EUA com uma camada de 2,7 centímetros de água. Se a perda do campo norte fosse acrescentada, a camada seria de 3,3 centímetros.
“Descobrimos que algumas geleiras estão estagnadas e mesmo que algumas aumentaram um pouco, mas no total, a diminuição e o desgaste prevalecem. Curiosamente, vemos o desgaste ocorrendo até nas maiores elevações, onde presumivelmente é mais frio”, comentou Willis.
Conforme explica a União Geofísica dos Estados Unidos (AGU), esse degelo está ocorrendo em áreas mais altas devido às mudanças climáticas, que tem ocasionado temperaturas mais quentes nestas regiões.
“As temperaturas atmosféricas mais quentes contribuem para o desgaste nas regiões mais altas e frias dos campos de gelo. Além disso, temperaturas mais quentes significam chances maiores de que a chuva, em vez da neve, caia nas geleiras e próximo a elas”, declarou a AGU em um comunicado à imprensa.
“A precipitação é um componente enorme e provavelmente causa grandes mudanças na absorção de massa, e, portanto, no equilíbrio”, concordou Alex Gardner, professor assistente da Universidade Clark, que não estava envolvido no estudo.
“Mais chuva pode, por sua vez, mudar a quantidade de água sob as geleiras. Mais água significa menos fricção, então as geleiras começam a se mover mais rapidamente à medida que afinam, levando ainda mais gelo para os oceanos. A elevação de lagos em frente às geleiras também pode ter um papel, à medida que eles absorvem as bordas de gelo mais rapidamente, fazendo as geleiras se retraírem ainda mais”, completou o comunicado.
Mas para Eric Rignot, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, as características específicas dos campos de gelo da Patagônia também ajudam a intensificar o índice de derretimento das geleiras do local.
“Os campos de gelo patagônicos são dominados pelas ‘geleiras partidas’. Tais geleiras desovam icebergs nos oceanos e lagos e tem uma dinâmica diferente das geleiras que ficam na terra e derretem sobre ela. Geleiras partidas são mais sensíveis a mudanças climáticas, uma vez que elas ficam fora do equilíbrio, e fazem dessa região a área de mais rápido degelo glacial na Terra”, disse Rignot.
Embora os cientistas ainda tenham que entender exatamente como o aumento das temperaturas continuará a influenciar os campos de gelo da América do Sul, a nova pesquisa trouxe informações valiosas para futuras estimativas de degelo da região.
“Sabemos que a península antártica tem esquentado nas últimas quatro décadas, e plataformas de gelo estão desaparecendo rapidamente e geleiras estão acelerando e elevando o nível do mar. Nossa pesquisa sobre a Patagônia está fornecendo visões únicas sobre como essas grandes massas de gelo pode evoluir ao longo do tempo em um clima mais quente”, observou Rignot.
“Os pesquisadores podem agora acessar dados dessa remota região da Terra em sua totalidade, permitindo desenvolver conclusões sobre todo o sistema, em vez de apenas focar nas mudanças de umas poucas geleiras estudadas em campo ou por aeronave”, acrescentou.
“[Essa nova pesquisa] mostra taxas muito altas de perda de massa e seria ótimo ver um estudo de acompanhamento e como os lagos modificam essas taxas de perda. Um estudo como esse realmente fornece dados fortes estabelecidos para validar e calibrar modelos glaciais que poderíamos usar então para simular futuras mudanças nas geleiras. A modelagem é realmente a única ferramenta que temos para fornecer futuras previsões”, concluiu Gardner.