• 04 de dezembro de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Geoengenharia pode alterar chuvas

Geoengenharia pode conseguir reduzir temperaturas globais, mas ser prejudicial para padrões sazonais de precipitação, diz estudo


A geoengenharia – a mais recente solução tecnocrata para as mudanças climáticas – pode criar condições prejudiciais por si própria, de acordo com uma nova pesquisa.

Simone Tilmes, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica de Boulder, Colorado, nos EUA, e uma equipe internacional de cientistas reportam no Geophysical Research Letters: Atmospheres que pelo menos uma estratégia tecnológica para limitar o aquecimento global pode reduzir as chuvas sazonais, incluindo as monções da Ásia, que são a salvação para centenas de milhões de pessoas.

Na última década, cientistas estão considerando adotar respostas tecnológicas às mudanças climáticas, já que as economias, os políticos e os consumidores não mostram sinal de fazer grandes reduções no uso de combustíveis fósseis, o que cortaria as emissões de gases do efeito estufa que alimentam o aquecimento global.

Entre estas respostas, há uma relativamente simples. Se os gases do efeito estufa continuarem aumentando, mais calor ficará armazenado na atmosfera. Então, deveria se pensar em uma forma de, em vez disso, reduzir a radiação solar: pulverizar partículas de sulfato na estratosfera para bloquear a luz solar recebida, ou mesmo colocar espelhos na órbita para refletirem a proporção de luz solar para longe da Terra.

Assim, cientistas usaram 12 modelos climáticos diferentes para simular vários futuros possíveis, incluindo um baseado em fatores históricos no qual o dióxido de carbono não apenas dobrava, mas atingia quatro vezes os níveis que havia na atmosfera durante a Revolução Norte-Americana e as Guerras Napoleônicas, que devastaram a Europa no alvorecer da Revolução Industrial.

Eles descobriram – não surpreendentemente – que um mundo com mais efeito estufa teria um aumento significativo na precipitação em muitos lugares, juntamente com secas prolongadas em outros. Isso aconteceria porque mais calor significa mais evaporação, mais saturação da atmosfera e, consequentemente, mais precipitação.

Colheitas em risco

Então, ainda usando os mesmos modelos climáticos, eles testaram o que aconteceria às chuvas se eles bloqueassem artificialmente um pouco da luz do sol recebida para reduzir as temperaturas globais. Mas eles não conseguiram recriar o mundo como ele tinha sido antes do alarmante aumento nos níveis de dióxido de carbono, com climas previsíveis dos quais a agricultura e a indústria e diferentes civilizações urbanas passaram a depender.

Os modelos previram que, em vez de aumentar, com resultados potencialmente desastrosos, as chuvas sazonais diminuiriam, com consequências igualmente prejudiciais. Uma redução na luz do sol significaria menos evaporação. As plantas responderiam ao aumento nos níveis de dióxido de carbono fechando seus estômatos ou poros, transpirando, portanto, menos água.

As chuvas de monção no Leste da Ásia cairiam em 6%, na África do Sul, em 5%, na América do Norte, em 7%, e na América do Sul, em 6%. Essas diferenças não parecem grandes – mas muitos milhões de pessoas poderiam morrer de fome como resultado das mudanças.

“A geoengenharia no planeta não resolverá o problema. Mesmo se uma dessas técnicas pudesse manter as temperaturas globais mais ou menos equilibradas, a precipitação não retornaria a condições normais”, disse a doutora Tilmes.

“O que realmente sabemos é que nosso clima é muito complexo, que a atividade humana está tornando o planeta mais quente e que qualquer solução tecnológica que possamos tentar para proteger o planeta pode ter consequências imprevisíveis.”

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