Em encontro com o ministro Sarney Filho, lideranças alertam para a situação nas áreas limítrofes da unidade de conservação no Mato Grosso.
ELIANA LUCENA
Líderes das principais etnias que vivem no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, entregaram nesta quarta-feira (15/03) documento ao ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, em que manifestam preocupação com a expansão do agronegócio nas áreas limítrofes do parque, criado em 1961, e com as ameaças aos direitos garantidos na Constituição de 1988 a essas populações.
Os índios alertaram para as ameaças aos principais rios que cortam o parque, que têm as suas nascentes fora dos limites da área protegida, em terras que estão sendo desmatadas para o plantio de soja.
Confira aqui as fotos do encontro.
O cacique Aritana Yaualapiti disse ao ministro que os índios enfrentam momento de grande insegurança com a possibilidade de redução de suas terras. “O grande desmatamento já chegou nos limites do parque, e está interferindo em nossas vidas”, disse o cacique.
O chefe Kuiussi Mehinako afirmou que as etnias indígenas “estão sendo desrespeitadas com as notícias que saem na mídia”, anunciando revisão de terras indígenas. “Vocês, como governo, precisam nos proteger. Não fomos nós que nos aproximamos de vocês, e sim o homem branco que chegou e agora está ameaçando as nossas terras e a nossa forma de viver”, enfatizou o cacique.
APOIO
Sarney Filho reafirmou aos índios a sua posição contrária à redução das reservas e defendeu a necessidade de “levar tranquilidade às populações que nelas vivem”. Ele lamentou as manobras no Congresso Nacional de parlamentares ligados ao agronegócio. “Rever os limites das áreas indígenas, em especial daquelas já consolidas, representaria um crime de lesa pátria”, alertou.
O ministro ressaltou a importância da manutenção de unidades de conservação e de reservas indígenas na Amazônia, para proteger populações tradicionais, e também para neutralizar os efeitos do aquecimento global. “O Parque Indígena do Xingu, por exemplo, com a sua vegetação preservada pelos índios, tem garantido chuvas, umidade e clima melhor em propriedades rurais já desmatadas no Mato Grosso”, observou.
O cacique Melolô Txicão se queixou do aumento da temperatura no Xingu com o desmatamento na região. “O clima está ficando mais quente, e isso começa a impedir que as plantas cresçam”, alertou o cacique.
AMEAÇAS
No documento entregue ao ministro, os índios citam os rios que estão ameaçados com o desmatamento, agrotóxico e assoreamento e que nascem fora dos limites do Parque Indígena do Xingu: Sete de Setembro, Tangurinho, Suiá Missu, Curizevu, Mirassol, Tuatuari, Batovi, Ronuro, Steni, Arraia, Manito e rio Preto.
Além do desmatamento nas cabeceiras dos rios, os índios relatam a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) para gerar energia. “As PCHs represam a água e impedem a livre passagem dos peixes, interferindo na reprodução e manutenção das espécies”, assinala o documento.
Os índios observam, ainda, que “os rios já não estão com tanta água como antigamente e já não estão mais enchendo as lagoas naturais onde muitos peixes se reproduzem anualmente”.