Japão luta para armazenar água nuclear
Doha, Catar, 29/10/2012 – O Japão busca desesperadamente lugar para armazenar milhares de toneladas de água altamente contaminada e usada para esfriar os acidentados reatores da central nuclear de Fukushima Daiichi. Cerca de 200 mil toneladas de água radioativa, suficientes para encher mais de 50 piscinas olímpicas, estão sendo guardadas em tanques gigantes construídos em volta da usina, agora fechada. A empresa privada Tokyo Electric Power Company (Tepco), responsável pela central, cortou várias árvores para dar lugar a mais tanques, e prevê que a quantidade de água mais do que triplicará nos próximos três anos.
“É uma questão urgente porque o armazenamento de água tem seus limites, há um espaço limitado”, disse o gerente de tratamento de águas Yuichi Okamura, em entrevista exclusiva à agência de notícias AP. Utilizar enormes quantidades de água para esfriar os reatores foi a única forma de evitar uma catástrofe ainda maior, depois que estes foram afetados por um tsunami e um terremoto no dia 11 de março de 2011. Okamura recorda o quanto procurou, desesperadamente, formas de desviar a água para as piscinas de combustível usado, localizadas no andar mais alto da central, que tem 50 metros de altura.
Sem água, o combustível usado provavelmente teria superesquentado e derretido, causando nuvens de fumaça radioativa com alcance de vários quilômetros, e possivelmente afetando milhões de pessoas. Contudo, as medidas tomadas para manter a usina sob controle causaram outra dor de cabeça para a companhia responsável por ela: o que fazer com toda a água radioativada que vazou dos reatores afetados e que foi armazenada em porões da central e em instalações próximas? “Na ocasião não esperávamos que a água altamente contaminada fosse parar na sala de turbinas”, admitiu Okamura.
O funcionário foi encarregado da criação de um sistema de tratamento que limpasse a água para poder ser reutilizada para resfriamento, além de reduzir os riscos para a saúde dos trabalhadores e os danos ambientais. Inicialmente, a empresa desviou a água para tanques de armazenamento já existentes, próximos aos reatores. A equipe de Okamura, de 55 pessoas, trabalhou rapidamente para instalar uma unidade de tratamento em poucos meses, sendo um projeto que normalmente demora dois anos, afirmou. Com esse equipamento, a Tepco pôde fazer circular a água reprocessada novamente nos núcleos dos reatores.
Apesar de estes estarem sendo resfriados hoje exclusivamente com água reciclada, o volume total da água radioativada continua aumentando, sobretudo porque as rachaduras nos reatores e nos porões das salas de turbinas estão contaminando os recursos hídricos subterrâneos. No mês que vem, o grupo de Okamura pretende ativar um novo equipamento purificador usando tecnologia da empresa Toshiba Corp. “Usando o sistema ALPS, teoricamente, todos os produtos radioativos podem ser purificados até ficarem abaixo dos níveis de detecção”, afirmou o funcionário. Mas, enquanto isso, os tanques vão enchendo.
Masashi Goto, engenheiro nuclear e conferencista universitário, alertou que a água contaminada representa uma grande ameaça no longo prazo para a saúde e o meio ambiente. Ele também disse estar especialmente preocupado porque a água radioativa nos porões estaria vazando para o sistema hídrico subterrâneo, por cujos canais poderia chegar muito mais longe e, possivelmente, alcançar o oceano ou a rede pública de fornecimento.
“Há piscinas com cerca de dez mil ou 20 mil toneladas de água contaminada em cada usina, e há muitas dessas. Trasladar tudo isso para um só lugar significaria tratar centenas de milhares de toneladas de água, o que é uma loucura”, ponderou Goto. “É uma quantidade escandalosa, realmente escandalosa”, ressaltou. A usina terá que manejar a água contaminada até que todo o combustível derretido e outros escombros sejam removidos, processo que facilmente levará mais de uma década. Envolverde/IPS
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.