• 13 de dezembro de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Micro e pequenas empresas mais sustentáveis. É possível?

Sair da inércia e buscar uma real transformação é muito difícil, mas os empreendedores de MPEs podem focar sua energia numa atuação diferenciada.


A sustentabilidade começa a determinar um padrão de funcionamento, desenho estratégico e controle nas grandes empresas, nas multinacionais e até em algumas empresas de médio porte. Mas e quanto às pequenas e microempresas? Elas também podem se tornar mais sustentáveis? Em que mudar e quando trocar ou investir neste tema, que envolve tantas ações e projetos?

Atualmente, a área das micro e pequenas empresas (MPEs) reúne cerca de 12 milhões de “potenciais empresários” com negócios e contrata 15,6 milhões de pessoas com carteira assinada, conforme o boletim do Sebrae Estudos e Pesquisa, de julho de 2013. O documento ainda mostra que a taxa de sobrevivência de empresas com até dois anos passou de 73,6%, nas criadas em 2005, para 75,6%, nas criadas em 2007. A taxa de sobrevivência é maior na indústria (79,9%) e na região Sudeste (78,2%).

Mas será que sobreviver ao tempo é o único indicador de sustentabilidade, uma vez que a empresa está se custeando financeiramente? Em uma pesquisa com esse público, o Sebrae mostra que o conhecimento sobre os temas sustentabilidade e meio ambiente é médio. De um universo de 3.912 entrevistados na pesquisa do ano passado, 65% pensam em sustentabilidade nas MPEs. Por outro lado, somente 12% desse total declaram entender muito sobre o assunto e 25% dizem entender pouco. Mas, quando questionados sobre o grau de importância que as empresas deveriam atribuir à questão do “meio ambiente”, 75,2% respondem que deve ser de alta importância.

Então, se o tema tem importância, como trazê-lo para o dia a dia e modificar alguns “vícios” da gestão antiga? O Instituto Ethos e o Sebrae, em conjunto, criaram os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas Empresas, que servem como um autodiagnóstico para análise do empreendimento.

Outra ferramenta que pode ser usada para esse fim por empresas de qualquer porte ou setor são os recém-lançados Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis.

Respondendo as perguntas sugeridas em qualquer dessas ferramentas e buscando as informações quantitativas para as comparações anuais, as MPEs terão um panorama dos pontos a melhorar e a visão de projetos a serem desenvolvidos.

Mas sabemos que não é tão simples assim. Na vida real, o empreendedor tem plena consciência de que precisa arranjar tempo dentro do seu dia atribulado para responder, pensar e modificar as suas ações, tornando-as mais sustentáveis.

No entanto, se esse empreendedor realmente entender que a sustentabilidade inserida no seu cotidiano não está atribuída somente às vertentes sociais e ambientais, mas que a questão financeira é essencial, valorizará ainda mais o tema. A pesquisa do Sebrae mostra ainda que quase a metade dos entrevistados (46%) acha que a questão da sustentabilidade representa oportunidade de ganhos para a sua empresa, o que corrobora a necessidade de um entendimento mais amplo sobre o tema.

Um caso que ficou famoso é de uma pequena fornecedora de um grande banco que passou por uma capacitação sobre responsabilidade socioambiental e resolveu abraçar a causa. A empreendedora, dona de uma empresa de motoboys, resolveu melhorar o seu indicador social no que se refere a público interno e decidiu conceder benefícios de saúde e qualidade de vida aos seus funcionários, além de registrar oficialmente toda a sua equipe de portadores. Isso fez com que o seu turnover, as dispensas médicas e o absenteísmo diminuíssem e a empresa começou a ter melhor rentabilidade financeira. Com isso, passou a pegar mais serviços com outros clientes que valorizavam a questão da sustentabilidade e que também ficaram satisfeitos com a diminuição de possíveis riscos sociais e trabalhistas.

Outra maneira de uma micro ou pequena empresa tornar-se mais sustentável é ela já nascer com este fator no seu DNA ou no seu produto ou serviço. O painel de práticas sustentáveis do Centro Sebrae de Sustentabilidade mostra diversas histórias de empreendimentos que foram concebidos ou adaptados para os temas e indicadores que buscam o desenvolvimento sustentável. É o caso da JS Metalurgia, que reduziu seus custos mensais em 10% e aumentou em 5% seu faturamento com práticas sustentáveis, que ainda geram novos produtos. Há também o caso de um restaurante de Vilhena, em Rondônia, que transforma resíduos alimentares em adubo orgânico para ser usado na plantação de hortaliças e legumes. E, além disso, educa o cliente sobre o consumo consciente, cobrando menos de quem não deixa sobras no prato.

Existem muitos exemplos, mas inspirar-se neles e sair da inércia do dia a dia para buscar uma real transformação é muito difícil para o ser humano em geral. Entretanto, os empreendedores de micro e pequenas empresas têm muita energia, o que faz com que eles se destaquem. Focar essa energia numa atuação diferenciada já é um bom começo, mas aceitar trabalhar com sustentabilidade como um novo desafio é o caminho para a real transformação.

* Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps)

Este texto faz parte da série de artigos de especialistas promovida pela área de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, cujo objetivo é subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

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