• 15 de agosto de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Moda verde: mercado em ascensão no Brasil

Também conhecida como ecofashion, a moda sustentável visa a confecção de vestimentas que utilizem matérias-primas ecologicamente corretas, respeitem as leis trabalhistas, levem em consideração o impacto da produção no meio ambiente e garantam a cooperação entre produtor e comunidade local. No Brasil, a questão da sustentabilidade vem se tornando essencial para várias marcas nacionais.

Um dos maiores nomes da moda verde brasileira é a carioca Osklen. No São Paulo Fashion Week de janeiro de 2007, a marca mostrou pela primeira vez sua coleção sustentável, intitulada “Amazon Guardians”, que tinha como principal objetivo convocar “uma brigada urbana contra a degradação do meio ambiente”. Inspirada pelo punk rock, a coleção exibiu um ativismo pró-sustentabilidade, com roupas feitas de algodão orgânico, malha de PET reciclada e látex natural da Amazônia. Desde então, o estilista responsável pela criação das peças, Oscar Metsavaht, fez da sustentabilidade uma das marcas registradas da Osklen. No mesmo São Paulo Fashion Week, em sua versão de 2011, a grife reforçou mais uma vez sua preocupação ambiental, utilizando palha, seda e algodão orgânicos, couro de pirarucu, lona de eco juta e malhas de PET reciclada.

Segundo Nina Braga, diretora da ONG Instituto-E, que tem como meta transformar o Brasil em referência de desenvolvimento sustentável, a Osklen é “uma vitrine do que se pode fazer pela moda sustentável”. Desde a criação da ONG em 2007, a marca é a principal parceira do Instituto-E no mundo da moda. Enquanto a organização oferece à Osklen conteúdos relacionados à utilização de e-fabrics (ecological fabrics ou tecidos ecológicos, em português), a marca, destinada a consumidores de alto poder aquisitivo, incentiva a promoção da moda ecologicamente correta, direcionando parte de suas vendas para o Instituto-E.

Corantes naturais

Além da Osklen, outras marcas brasileiras também buscam atender às demandas ecologicamente corretas. A estilista Flavia Aranha, por exemplo, iniciou sua marca com o intuito de fazer uma moda que contribuísse para a preservação ambiental. O traço mais marcante de suas coleções são as cores, produzidas a partir de pigmentos naturais de plantas, cascas de árvores e raízes. A ideia de utilizar corantes naturais nos tecidos veio quando Flavia percebeu que podia criar cores vivas e naturais que não estavam presentes no arsenal de cores usadas pela indústria tradicional.

Durante sua pesquisa, a estilista conheceu o maior especialista em tintas naturais no Brasil, Eber Lopes, com quem desenvolveu suas primeiras cores. “O corante natural, além de ser esteticamente fascinante, não polui a natureza nem a água. O processo é todo natural, inclusive o de fixação”, garante Flavia. Na grande indústria, a fixação das cores nos tecidos é frequentemente realizada com o uso de metais pesados que, segundo a estilista, prejudicam não somente o meio ambiente, mas também a saúde.

Mercado brasileiro

A marca de Flavia também tem representantes na Alemanha pela pdb – piadobrasil, em Nurembergue, no sul do país. Em 2010, ela participou também da feira de moda sustentável The Key, realizada em Berlim, paralela à Berlin Fashion Week. A estilista acredita que, na Europa, há maior conscientização e preocupação em relação aos produtos consumidos. No entanto, ela se mantém otimista em relação ao mercado da moda ecológica no Brasil: “Acredito que seja uma tendência mundial e o Brasil é muito rico em matéria-prima e criatividade. Acho que, com o aquecimento da nossa economia, mais projetos irão acontecer daqui para frente”, comenta.

Franciscus Prins, um dos fundadores da agência de consultoria em moda sustentável Beyond Berlin, localizada em Berlim, também tem perspectivas positivas quanto ao mercado brasileiro de moda ecologicamente correta. Em maio de 2011, ele esteve em São Paulo, onde ofereceu a oficina “Moda Verde: mercado, valores, perspectivas”, voltada para temas como o desejo por uma vida mais saudável e sustentável na indústria da moda e para as demandas do mercado e dos profissionais do setor. De acordo com Prins, o que é mais marcante no mercado brasileiro é o fato de o país apresentar simultaneamente uma cena de moda muito viva e um crescente número de consumidores. Portanto, ele defende que a moda sustentável no Brasil é viável e deve ser levada adiante.

Falta de incentivos

Nina Braga argumenta, contudo, que falta incentivo para o mercado de moda sustentável. A diretora do Instituto-E defende a criação de políticas públicas como um “ponta-pé inicial” para a moda ecologicamente correta, a fim de que esta consiga se sustentar de maneira independente no futuro. Como exemplo, ela afirma que o governo poderia facilitar e incentivar empréstimos para os fornecedores de algodão orgânico.

Segundo Braga, a produção desta matéria-prima não é suficiente para atender todo o mercado brasileiro de moda sustentável. Se um fornecedor de algodão orgânico quiser pedir um empréstimo em um banco para aumentar sua produção, por exemplo, o preço sairá mais alto, pois a produção é realizada sem agrotóxico e, portanto, não há garantias de colheita. Este é um dos motivos que influenciam o preço das roupas ecologicamente corretas, geralmente mais caras do que as normais. A própria cadeia de produção exige um investimento maior, devido à extração da matéria-prima, que é renovável, e também das condições de trabalho, que são baseadas em condições trabalhistas justas.

“O Brasil está perdendo uma grande oportunidade, pois ainda há tempo de preservar e valorizar a biodiversidade brasileira”, afirma Braga. Para ela, este é o momento de o país rever as relações de custo-benefício na indústria da moda. Embora a produção de roupas sustentáveis realmente seja mais cara, ela ainda é mais vantajosa em termos ambientais, pois os custos que resultam do modo de produção do fast fashion certamente serão mais altos com a degradação do meio ambiente. Mas Braga se mantém otimista quanto ao futuro da moda sustentável no país. Ela acredita que há seguramente um mercado interno interessado neste segmento e que, no futuro, haverá mais investimento no setor, capaz de viabilizar cada vez uma “moda verde” brasileira.

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