Condições climáticas que intensificaram os incêndios tornaram-se de quatro a cinco vezes mais prováveis
mudança do clima intensificou em cerca de 40% os incêndios florestais registrados em junho no Pantanal, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira (8/8) pela World Weather Attribution (WWA). A análise realizada por 18 cientistas concluiu que a seca, os ventos fortes e altas temperaturas que agravam os incêndios tornaram-se de quatro a cinco vezes mais prováveis devido ao aquecimento global.
Antes da revolução industrial as condições climáticas que anteciparam em dois meses os incêndios no bioma eram esperadas a cada 160 anos. Hoje, após aumento de 1,2ºC na temperatura média do planeta, tornaram-se esperadas a cada 35 anos, mostrou o estudo.
Caso o aquecimento global chegue a 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, a previsão é que as altas temperaturas, a seca e os ventos fiquem 17% ainda mais intensos e tornem-se cerca de duas vezes mais frequentes que atualmente.
O aumento do risco de fogo é causado principalmente pelas altas temperaturas, menor precipitação e queda da umidade. O perigo meteorológico do fogo na região, índice que mede a dificuldade de controlar incêndios segundo os fatores climáticos, é o maior desde 1980.
“O estudo demonstra que além de intensificar e tornar mais frequentes as condições propiciais para grandes incêndios, as mudanças climáticas estão prolongando a estação de incêndios no Pantanal. Normalmente observamos a época de fogo acontecer entre julho e outubro, mas agora já observamos um período que vai de junho a novembro", disse Renata Libonati, coautora do estudo e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O World Weather Attribution é formado por cientistas que estudam os impactos da mudança do clima para eventos extremos como tempestades, chuvs extremas, ondas de calor e estiagens. O estudo sobre o Pantanal foi realizado por pesquisadores de instituições como o Lasa/UFRJ, Inpe, UFSC, Imperial College London, Universidade Princeton e MapBiomas, entre outras.
“Conforme as emissões causadas pela queima de combustíveis fósseis, a planície alagável está aquecendo, secando e se transformando em uma caixa de pólvora. Isso significa que pequenos incêndios podem rapidamente se intensificar e se tornar devastadores, independentemente de como começaram”, afirmou Clair Barnes, pesquisadora da Imperial College London, no Reino Unido.
Cerca de 980 funcionários do governo federal atuam no combate aos incêndios no Pantanal, apoiados por 19 aeronaves e 37 embarcações, de acordo com informações divulgadas pelo boletim semanal do governo federal.
Dos 92 incêndios registrados no bioma até 5 de julho, 49 foram extintos e 22 estão controlados. Cada incêndio vários focos de calor, dependendo da linha de fogo.
“Grandes incêndios florestais estão se transformando no novo normal no Pantanal. A área alagável está reduzindo enquanto as temperaturas aumentam, deixando a vegetação muito mais seca e inflamável”, disse Filippe LM Santos, pesquisador da Universidade de Évora, em Portugal, e colaborador do Lasa/UFRJ.
Na semana passada, o presidente Lula sancionou a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (Lei n° 14.944 de 31 de julho de 2024) após acompanhar ações de combate em Corumbá (MS). A legislação impõe medidas para disciplinar e aprimorar o uso do fogo e, entre outras medidas, proíbe o uso do fogo como método de retirada de vegetação nativa para uso alternativo do solo, exceto quando há queima controlada dos resíduos de vegetação.
A política será implementada em cooperação entre União, estados, municípios, sociedade civil e entidades privadas. A governança será realizada por um Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo, com caráter consultivo e deliberativo, que terá participação de representantes de diversos setores, garantindo a coordenação entre instituições públicas, privadas e a sociedade civil.