• 29 de fevereiro de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Mudanças climáticas podem levar até 2,5 mil espécies de aves tropicais à extinção

Pode haver menos aves para os ornitólogos verem no mundo à medida que o planeta esquenta. As mudanças climáticas, em combinação com o desmatamento, podem levar entre cem e 2,5 mil espécies de aves tropicais à extinção antes do final do século, de acordo com nova pesquisa publicada no Biological Conservation.

A ampla gama de espécies depende da extensão do clima e de quanto habitat será perdido, mas pesquisadores dizem que a gama mais provável de extinção é entre 600 e 900 espécies, o que significa 10% a 14% das aves tropicais, excluindo as espécies migratórias.

“As aves são um sinal perfeito para mostrar os efeitos das mudanças globais nos ecossistemas mundiais e nas pessoas que dependem desses ecossistemas”, disse o principal autor e ornitólogo Çağan Şekercioğlu, da Universidade de Utah.

“Comparadas às espécies de clima temperado, que frequentemente experimentam uma ampla faixa de temperatura em uma base anual, as espécies tropicais, especialmente aquelas limitadas a florestas tropicais com climas estáveis, são menos propensas a acompanhar as mudanças climáticas rápidas.”

Şekercioğlu e seus colegas pesquisaram 200 estudos científicos relacionados a aves tropicais e mudanças climáticas para desenvolver sua estimativa, que acompanha estimativas anteriores do declínio de aves ligado ao aquecimento do planeta.

As aves mais suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas incluem espécies de altitudes elevadas, que podem literalmente ficar sem habitat, e as já restritas a faixas pequenas. Um aumento nos eventos climáticos extremos, como secas e tempestades, pode também colocar em perigo algumas espécies.

A intensidade crescente de furacões, mesmo se a frequência diminuir, pode ameaçar aves costeiras, enquanto longas secas podem prejudicar a capacidade das aves de encontrar alimento durante a estação de reprodução. A Amazônia, por exemplo, sofreu duas secas recordes nos últimos sete anos, levando muitos cientistas a temer pela flexibilidade ecossistêmica frente às mudanças climáticas.

As doenças podem também representar um problema. A malária deve se espalhar para altitudes e latitudes mais altas, possivelmente colocando em risco algumas espécies de aves tropicais. O aumento do nível do mar pode também representar um problema para aves costeiras e insulares.

“Nem todos os efeitos das mudanças climáticas são negativos, e mudanças nos regimes de temperaturas e de precipitação beneficiarão algumas espécies”, afirmou Şekercioğlu. Por exemplo, o tucano de peito amarelo (Ramphastos sulfuratus) viu sua faixa aumentar para altitudes mais altas como resultado das mudanças climáticas.

No entanto, o seu ganho foi a perda de outra espécie: o quetzal-resplandecente (Pharomachrus mocinno), uma ave de altitudes mais altas, tem agora que competir com o tucano por ninhos e enfrentar a ameaça de tucanos predando os ovos e filhotes de quetzal. A competição súbita entre o tucano de peito amarelo e o quetzal-resplandecente mostra como as mudanças climáticas podem afetar as espécies de formas inesperadas.

Mesmo que um mundo mais quente possa beneficiar algumas poucas espécies, Şekercioğlu acrescentou que “as mudanças climáticas não beneficiarão muito” e o resultado final será uma perda significativa na biodiversidade das aves.

Atualmente, o clima global esquentou cerca de 0,8ºC desde a Revolução Industrial. Enquanto os governos globais se comprometeram em manter o aquecimento abaixo dos 2ºC, as promessas atuais de cortes de emissões passam longe desta meta. Porém, alertam os cientistas, um único grau adicionado no aquecimento poderia levar à extinção de cem a 500 espécies de aves tropicais a mais.

Os cientistas recomendam mais pesquisas e um melhor monitoramento das aves tropicais. Além disso, áreas protegidas devem ser criadas ou expandidas para preencher as lacunas para espécies de aves e terras degradadas restauradas. A transferência de algumas espécies também pode se tornar necessária.

“No entanto, tais esforços serão correções temporárias se não conseguirmos atingir uma mudança social importante na redução do consumo, no controle das emissões de gases do efeito estufa e na interrupção das mudanças climáticas”, escreveram os autores.

“Caso contrário, enfrentamos a perspectiva de um clima fora de controle que não apenas levará a um enorme sofrimento humano, mas provocará a extinção de milhares de organismos, entre os quais as aves tropicais serão apenas uma fração do total”.

* Tradução: Jéssica Lipinski.

** Publicado originalmente no CarbonoBrasil e retirado do site Mercado Ético.

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