• 09 de janeiro de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Mudanças climáticas transformam flora de montanhas

Pesquisa sobre o impacto do aquecimento global na vegetação de altas altitudes revela que a ‘invasão´ de espécies mais acostumadas ao calor deve levar à extinção de plantas típicas das regiões de montanhas já nas próximas décadas

As cadeias de montanhas são frequentes objetos de estudos sobre as mudanças climáticas por serem locais especialmente sensíveis a qualquer alteração no clima. A maioria dessas pesquisas costuma ser destinada a medir o derretimento das geleiras e os impactos disso para os recursos hídricos e para a população. Alterando esse foco, um grupo de cientistas resolveu voltar a sua atenção para a situação da flora das montanhas diante do aumento das temperaturas e descobrir como as plantas estão se adaptando.

Assim, biólogos de 13 países analisaram 867 espécies de plantas de 60 locais diferentes de cadeias de montanhas ao redor do mundo entre 2001 e 2008 e chegaram a conclusão de que a presença delas está diminuindo rapidamente.

Segundo os cientistas, a vegetação típica das regiões montanhosas corre o risco de desaparecer nas próximas décadas por perder espaço para plantas que se adaptam melhor ao calor. Os pesquisadores batizaram o fenômeno de Termofilização (Thermophilization).

“Já esperávamos encontrar um grande número de plantas ‘invasoras’ nos locais que estudamos, mas a situação está muito pior do que prevíamos”, afirmou o líder do estudo Michael Gottfried, da Iniciativa Global de Pesquisa e Observação de Ambientes Alpinos (Gloria, em inglês).

“Muitas espécies estão literalmente sendo expulsas de seus habitats e devem sumir em breve. Nas montanhas mais baixas da Europa, por exemplo, os tradicionais campos alpinos devem dar lugar a uma vegetação composta por arbustos”, explicou Gottfried.

Entre as espécies ameaçadas está a Edelvais (Edelweiss), flor símbolo da Áustria e famosa mundialmente pelo filme A Noviça Rebelde. A planta, normalmente encontrada nos Alpes, está ficando cada vez mais rara.

“Nosso trabalho mostra que os efeitos das mudanças climáticas afetam diretamente a biosfera. A termofilização não pode ser controlada diretamente, assim, mitigar de maneira eficiente o aquecimento global é a única maneira de preservar o tesouro biogenético que é a flora alpina”, disse Georg Grabherr, presidente do Gloria.

Ainda em 2003, o WWF já alertava sobre os riscos do aumento da temperatura para a vida animal e vegetal nas montanhas e afirmou que mesmo a menor variação do clima poderia ter impactos severos.

“O aquecimento global está alterando os habitats e, diferente de outras espécies que podem migrar, as plantas de montanhas possuem um limite até onde conseguem subir nas encostas. Assim, podemos estar presenciando os últimos momentos da existência de várias delas”, alertou Stefan Moidle, do WWF-Áustria.

Os pesquisadores do Gloria esperam que, utilizando o conceito de Termofilização, outros grupos de cientistas possam traçar um panorama da situação da vegetação em seus países e assim seja possível estabelecer uma tendência global para o futuro da flora de montanhas.

O estudo, considerado o mais amplo já realizado sobre o tema, será publicado na edição de fevereiro da Nature Climate Change.

Autor: Fabiano Ávila

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