• 09 de junho de 2021
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Mundo tem 40% de chance de ultrapassar 1,5ºC até 2025

Organização Meteorológica Mundial alerta, porém, que rompimento deve ser temporário e reforça urgência em implementar Acordo de Paris



A Organização Meteorológica Mundial nos deu uma má e uma boa notícia nesta quinta-feira (27). A má é que até 2025 a temperatura global tem 40% de chance (e crescendo) de ultrapassar o limite de 1,5oC de aquecimento a partir do qual os impactos da crise climática se tornam muito difíceis de manejar. A boa, se é que dá para falar nisso, é que a ruptura dificilmente será permanente. Por enquanto.



O fantasma do chamado “overshoot” assombra a humanidade desde 2015, quando a COP21, a conferência do clima de Paris, concordou em inserir no tratado do clima uma meta “aspiracional” de limitar o aquecimento da Terra neste século a 1,5oC em relação à era pré-industrial.



Naquela época os cientistas sabiam que, com o planeta já mais de 1oC mais quente, seria virtualmente impossível impedir que o limite fosse ultrapassado (essa ultrapassagem recebeu o nome em inglês de “overshoot”). A ideia era cortar emissões rapidamente de forma a que a temperatura média global, mesmo que ultrapassasse o limite, pudesse retornar o quanto antes a patamares menores e mais seguros.



O que pouca gente esperava é que a primeira ultrapassagem estivesse tão próxima. Embora o limite provavelmente já tenha sido brevemente rompido por alguns meses entre 2016 e 2017, o mundo ainda não passou um ano inteiro além de 1,5oC. Este não deve tardar. No Relatório de Atualização Climática Anual a Decadal, publicado hoje, a OMM afirma que é quase meio a meio a chance de um ano qualquer dos próximos cinco anos assista a um “overshoot”. As médias anuais entre 2021 e 2025 devem ficar entre 0,9oC e 1,8oC acima do pré-industrial.



A organização, citando dados do Met Office, o instituto britânico de meteorologia, também afirma que é de 90% a chance de que algum dos anos entre 2021 e 2025 seja o mais quente da história, ultrapassando o recorde por ora estabelecido por 2016.



Em compensação, e sorria se puder, é de apenas 10% a chance de que a média global verificada entre 2021 e 2025 seja maior que 1,5oC.



A OMM informa que a chance de um “overshoot” dobrou em relação à última previsão porque o Met Office está usando uma nova base de dados climatológicos, o que fez com que o aquecimento estimado entre 1850 e 2020 saltasse de 0,91oC para 1,07oC. Em 2020 a Terra já estava 1,1oC mais quente que no período pré-industrial, e sobre os continentes, desconsiderando os oceanos, o 1,5oC já foi atingido.



O relatório lista outras previsões climáticas para o período 2021-2025: o Sahel, a imensa faixa semiárida ao sul do Saara, deve ver mais chuvas; o Ártico terá aquecido mais do que duas vezes mais rápido do que o restante do planeta; e o número de furacões no Atlântico Norte será ainda maior do que em anos recentes.



A probabilidade de que toda a América do Sul vivencie temperaturas acima da média é maior do que 90%. No mundo inteiro, apenas parte do Atlântico Norte ao sul da Groenlândia, do Oceano Austral e do Pacífico Sul devem ficar imunes a aquecimento adicional. O que é mais preocupante, o centro-norte da América do Sul, onde estão partes da Amazônia e do Nordeste brasileiro, deve ser uma das regiões do mundo com maior redução de precipitação.



“O relatório da OMM mostra que estamos praticamente jogando uma moeda com o limite de temperatura do Acordo de Paris”, diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima. “Para que isso seja apenas momentâneo e possamos ficar dentro do aquecimento que a ciência diz que é mais seguro os países precisam de metas mais ambiciosas de redução de emissões para 2030 e correr para zerá-las em 2050. Não podemos contar com a sorte.”


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