Ministro do Meio Ambiente norueguês manda carta a Sarney dizendo que “futuro da parceria” com Brasil dependerá da reversão da alta do desmatamento na Amazônia; presidente veta MPs polêmicas, mas destino de áreas protegidas é incerto
O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Vidar Helgesen, enviou na última sexta-feira uma carta a seu colega brasileiro, Sarney Filho (PV-MA), manifestando dúvidas sobre a continuidade e a utilidade do Fundo Amazônia diante da alta das taxas de desmatamento e da série de propostas em discussão no governo e no Congresso para enfraquecer a proteção ambiental no Brasil.
Segundo o norueguês, a escalada do desmatamento em 2015 e 2016 revela uma “tendência preocupante”, e da reversão dessa tendência “determinará o futuro de nossa parceria baseada em resultados”. Mais adiante no texto, ele expressa o temor de que os bilhões de reais doados pela Noruega e pela Alemanha para reforçar o combate ao desmatamento no Brasil “tenham tido um impacto apenas temporário”.
Mesmo escrita com os rapapés de praxe das correspondências diplomáticas, a carta é de uma franqueza incomum para uma comunicação desse tipo – franqueza esta que Helgesen atribui ao fato de a parceria com o Brasil ser “longa e sólida”.
Mais constrangedor ainda para o governo brasileiro é o fato de o sabão ter sido passado às vésperas da primeira visita oficial do presidente Michel Temer a Oslo, nesta quinta e sexta-feira (22 e 23). Um dos principais assuntos da visita é, justamente, o Fundo Amazônia. Temer embarca nesta segunda-feira (19) acompanhado de Sarney.
A viagem já ocorre após fortes pressões pelo veto às Medidas Provisórias 756 e 758, que cortariam 600 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia e na Mata Atlântica. Premido pela sociedade e por Sarney Filho, de um lado, e pela bancada ruralista, do outro, Temer assinou o veto às duas MPs nesta segunda-feira. No entanto, nos próximos dias deve enviar ao Congresso um projeto de lei propondo corte semelhante na área protegida da Floresta Nacional do Jamanxim, a mais afetada pelas medidas, que perderia 486 mil hectares.