• 03 de setembro de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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O papel das mulheres frente à sustentabilidade

Uma significativa porcentagem da população compreendeu o conceito de finitude dos recursos naturais e o incorporou a sua gestão. O debate sobre como fazer um mundo mais sustentável está instalado. Entretanto, segundo o Informe GEO-5, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 2012, 80% da população vivem em zonas donde o fornecimento de água está ameaçado. Esta alarmante realidade não condiz com os avanços tecnológicos contemporâneos.

Segundo o documento Visión 2050 do Conselho Empresarial Argentino para o Desenvolvimento Sustentável, se espera que nesse ano a população mundial aumente dos 7 bilhões atuais para mais de 9 bilhões, e segundo as estimativas da ONU, 98% desse crescimento se dará no mundo em desenvolvimento e emergente.

As respostas propostas à sociedade são tímidas e lentas em relação à velocidade da devastação dos recursos naturais e o aumento das dívidas sociais. Para problemas globais são necessárias soluções globais e, acelerar os processos de mudança. Detectar e enfatizar aqueles nós dentro do sistema com o potencial de provocar mudanças quânticas que superem a linearidade cronológica; nós que sejam transversais a todas as áreas para atuar simultaneamente e alterar as matrizes dos mecanismos.

Este novo paradigma implica novas formas de gestão, pensamento e liderança. Que invistam na diversidade, fomentem a criatividade, incentivem a participação, o debate e o diálogo. Que capitalizem os aprendizados nos processos, que questionem o custo dos resultados e que aspirem a implementar políticas de longo prazo. Muitas destas características fazem parte do estilo de liderança feminino; um grupo que, de acordo com as suas próprias características, pode realizar um aporte significativo à saúde do meio ambiente.

Aparentemente são elas as que mais se inclinam à sustentabilidade. Uma pesquisa realizada com referência a padrões de consumo por The Futures Company em nível global revela que as mulheres respondem em ação por 10% mais que os homens quanto à preferência de produtos que cuidam do meio ambiente. E este é somente um dos exemplos.

Pode-se estabelecer uma relação estreita entre o feminino e a sustentabilidade:

O estilo de liderança feminino é radial e se estrutura em rede; é flexível e comunicativo. Constitui equipes de trabalho, compartilha informação e se organiza de forma horizontal. Características que são fundamentais para liderar a nova onda de globalização. – São as mulheres que naturalmente trabalham pela geração de negócios sustentáveis, pelas necessárias mudanças nos padrões de consumo que constroem um estilo de vida respeitoso dos ciclos de regeneração dos recursos naturais e dos ecossistemas planetários.

- Elas têm um papel prioritário na gestão ambiental, na produção de alimentos e na organização social.

- Num mundo globalizado e caótico, as mulheres ocupam um lugar central, um rol vanguardista, segundo o sociólogo francês Alain Touraine. Entre a luta pela igualdade e o reconhecimento de sua diferença, as mulheres estariam “no centro das principais questões democráticas de nosso tempo”.

- As crises exigem multiplicar o cérebro e atender a várias frentes simultaneamente, “um rol para o qual as mulheres estão historicamente treinadas e culturalmente inspiradas”, como afirma a jornalista Laura di Marco em seu livro Las Jefas. (As Chefas)

Se a afinidade entre as mulheres e a sustentabilidade é real, um tema fica pendente: Qual o lugar que elas ocupam na economia atual e o que deveriam ter para fazer um aporte para a sustentabilidade na tomada de decisões? Segundo o Censo 2010, na Argentina há 4.200.000 mulheres chefes de família, que são responsáveis pela economia e entrada de recursos nos lares. Um crescimento de 49% da chefia feminina com respeito ao Censo de 2001. Entretanto, na pesquisa trimestral de empresas do setor privado, Grant Thornton encontrou também que o índice de empresas argentinas que não possuem mulheres na alta direção se elevou a 51% frente a 47% registrado em 2009.

Já no Brasil, a proporção de famílias chefiadas por mulheres, segundo critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cresceu mais do que quatro vezes nos últimos 10 anos. Em relação aos casais sem filhos, o índice de autoridade feminina passou de 4,5% para 18,3%; já entre os que possuem filhos, subiu de 3,4% para 18,4%. No Censo realizado em 2000, a porcentagem dos lares que tinham como chefe uma mulher era de 26,55%. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), que teve como ano base 2011, aponta que 37,4% das famílias têm como pessoa de referência uma mulher. Os dados fazem parte da amostra “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgada em Setembro de 2012, sendo o levantamento mais recente do IBGE.

Não é uma questão de gênero

Do meu ponto de vista, diante da realidade atual, os resultados falam por si mesmos: fazer o correto, incluso cumprindo com todas as normativas legais, os parâmetros de boas práticas e as certificações qualificadas, é insuficiente.
A diversidade e a inclusão são fatores chave para somar múltiples miradas à encruzilhada em que a humanidade se encontra estancada. O capitalismo, ao menos em sua forma tradicional, cumpriu seu ciclo e não há um sistema econômico que o tenha substituído. Talvez não seja somente uma questão de gênero, senão de generosidade.

* Julia Tramutola é diretora-Executiva da Revista Ecosistema (Argentina)

** Publicado originalmente no site Eco21.

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