• 09 de junho de 2025
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Oceano pode ser grande trunfo na transição energética brasileira, diz especialista

País tem maior potencial de energia eólica em alto-mar do mundo; professor e pesquisador Alexander Turra participa da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas e defende mais investimentos em economia azul; para ele, COP30, no Brasil, será oportunidade para “unir Amazônia Verde e Amazônia Azul”.


Oceanos saudáveis podem ajudar a conter a crise climática, proteger cidades costeiras de desastres e criar oportunidades econômicas de cerca de US$ 15,5 trilhões até 2050.


A 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que começa nesta segunda-feira, em Nice, na França, pretende reforçar estratégias para proteger os mares de ameaças como poluição, pesca excessiva e aquecimento global.


Potencial de energia eólica no Brasil
A ONU News conversou com o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, USP, Alexander Turra, que está em Nice. Ele destaca que o oceano pode favorecer a transição energética, necessária para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.


“Quando a gente fala de energia eólica ou de outras energias limpas ou renováveis associadas ao oceano, a gente tem aí uma oportunidade gigantesca de fazer a transição para uma economia de baixo carbono, deixando de explorar petróleo ou deixando de explorar gás e carvão. E nesse sentido, a gente pode então olhar o oceano como esse grande trunfo que a gente tem nessa transição. Por outro lado, ele vem sofrendo e esse sofrimento que ele vem tendo, ele acaba sendo transposto para a gente, A gente sofre junto. Então, os eventos extremos que têm aumentado em magnitude e em frequência vêm causando mortes nas zonas costeiras dos diferentes países, especialmente em camadas mais vulneráveis da população, que estão nas encostas ou nas palafitas”.


Turra que lidera a Cátedra sobre Sustentabilidade do Oceano da Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura, Unesco, afirmou que o Brasil é o país que tem o maior potencial de geração de energia eólica em alto-mar.


Ele atua no aprimoramento da avaliação de impacto ambiental dessa alternativa energética, buscando caminhos para maximizar benefícios e minimizar prejuízos.


Assista:


https://www.youtube.com/watch?v=hVyCxizQGjU


Amazônia Azul


O pesquisador é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Segundo ele, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontece no Brasil em novembro, será crucial para enfatizar as relações entre oceano e clima.


Turra destacou que os ecossistemas da zona costeira do país equivalem a uma “Amazônia Azul”, e precisam ser valorizados.


“O oceano está no meio dessa discussão e a COP30 em Belém é o lugar perfeito para que a gente consiga unir a Amazônia Verde e a Amazônia Azul num diálogo integrado, para que a gente jamais deixe de considerar essa relação intrínseca e indissociável entre oceano e clima”.


Fortalecimento da economia azul
A conferência em Nice enfatiza o crescimento e diversificação da “economia azul” como forma de estabelecer um uso sustentável dos mares. Turra acredita que o Brasil precisa garantir investimentos para fortalecer o setor.


“O Brasil, assim como o mundo de uma forma geral, está acordando e está despertando para esse universo que a gente tem chamado de economia azul. Tradicionalmente, a gente fala de alguns setores, como a pesca, exploração de óleo, gás, a mineração, a navegação. Mas a gente está falando de uma variedade gigantesca de oportunidades de diálogo com recursos e benefícios que o oceano nos provê. E aqui, na Conferência do Oceano, na Zona Verde, existe um pavilhão dedicado a startups do mundo inteiro. Esse pavilhão juntou, agregou 1 mil startups. Temos inclusive startups brasileiras aqui, como o ‘Ilha Hub’, trazendo inovações e arranjos interessantes que estão fazendo com que aconteça essa emergência da economia azul no país”.


O especialista alertou que muitas dessas oportunidades econômicas estão ligadas aos esportes e ao turismo e podem ser prejudicadas com a tendência de degradação dos mares e aumento da poluição.


Mineração no fundo do mar
A declaração final do encontro em Nice toca num tema que também coloca em risco a sustentabilidade dos oceanos, a mineração no fundo do mar.


O professor brasileiro ressaltou que o ambiente marinho é muito frágil e demora muito tempo para se recuperar de impactos. Nesse sentido, o pesquisador defende a suspensão de atividades mineradoras, para que seja possível acumular mais conhecimento sobre os ecossistemas encontrados na parte mais profunda dos oceanos.


“A mineração de mar profundo. Ela é uma atividade bastante controversa porque ela está amparada ou está alicerçada em muitas incertezas. E é por isso que vários países, incluindo o Brasil, defendem o que se chama de pausa de precaução. Não é bem uma moratória, mas é uma pausa de dez anos para que a gente consiga avançar no nosso conhecimento. E é tão gritante o nosso desconhecimento desses ambientes que no ano passado, em 2024, se descobriu um fenômeno que foi batizado de oxigênio negro, porque ele está sendo gerado na escuridão, sem a presença de luz, por um processo físico que a gente aprende na escola, que é a eletrólise”.


Alexander Turra ressaltou a preocupação com a “pressão da indústria de alta tecnologia”, como os celulares, que demandam produtos minerais de altíssimo valor encontrados a mais de 3 ou 4 mil metros de profundidades, em locais como a elevação do Rio Grande, ao largo do Estado de São Paulo.


Ele mencionou ainda sulfetos poli metálicos que estão associados a vulcões que pararam de funcionar e estão presentes na costa de São Paulo e perto do Arquipélago de Fernando de Noronha, no Brasil.


Para Turra, as duas primeiras conferências dos oceanos tiveram um papel de mobilizar a comunidade internacional, mas essa 3ª precisa fazer o mundo “sair do discurso e ir para a prática” na corrida para salvar os oceanos.

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