• 27 de outubro de 2011
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
  • 1264

Onda de calor na Rússia em 2010 pode ter sido causada pelo aquecimento global

Quando se trata de relacionar eventos climáticos extremos ao aquecimento global, muitos cientistas afirmam que ainda não é possível ter certeza sobre a ligação, mas novos estudos parecem cada vez mais apontar para essa associação. Um dos mais recentes indica que a onda de calor que ocorreu na Rússia em 2010, matando milhares de pessoas, pode também ter sido efeito das mudanças climáticas.

A pesquisa, intitulada Increase of extreme events in a warming world (Aumento de eventos extremos em um mundo em aquecimento) foi conduzida pelos cientistas Stefan Rahmstorf e Dim Coumou, do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, e publicada na revista Proceedings da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.


Segundo Rahmstorf e Coumou, através do uso de soluções analíticas e simulações, a análise revelou que o aquecimento global aumenta os extremos de calor, e que a soma de extremos quentes e frios cresce com as mudanças climáticas, tanto para o aquecimento como para o resfriamento. Além disso, o estudo descobriu que o aquecimento aumentou a freqüência e a temperatura dos novos recordes climáticos da última década.

“Para a temperatura de julho em Moscou, estimamos que a tendência do aquecimento local tenha aumentado o número de recordes esperados na última década em cinco vezes, o que implica em uma probabilidade de aproximadamente 80% de que o recorde de calor de julho de 2010 não teria ocorrido sem o aquecimento climático”, explicou a dupla.

“Dados de satélite mostraram, para uma grande região em torno de Moscou, um aquecimento linear de 1,4 graus Celsius em relação ao período 1979-2009. Isso é (mesmo sem o alto valor de 2010) um aquecimento três vezes maior do que a média global”, escreveram os cientistas em seu blog Real Climate.

O estudo vai contra uma pesquisa da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA), lançada também em 2011 na revista Geophysical Research Letters (Was there a basis for anticipating the 2010 Russian heat wave? – Havia uma base para antecipar a onda de calor russa de 2010?), que sugere que o fenômeno é resultado de uma variabilidade atmosférica interna natural e que não teve ligação com as mudanças climáticas.

No entanto, Rahmstorf e Coumou explicaram que “o estudo da NOAA mostra um enorme sobre-ajuste para as ilhas urbanas de calor no verão, pois as ilhas urbanas de calor em Moscou são principalmente um fenômeno de inverno. Esse ajuste irreal transforma um forte aquecimento de julho em um ligeiro resfriamento”.

Na época, a onda de calor na Rússia matou milhares de pessoas e foi responsável pela perda de 20% das colheitas de trigo do país, alterando não só o consumo interno do produto, mas também as exportações, o que atingiu o mercado mundial.

“Infelizmente, o que está acontecendo agora em nossas regiões centrais é evidência dessas mudanças climáticas globais, pois nunca tínhamos em nossa história enfrentado tais condições climáticas no passado. Isso significa que precisamos mudar a forma como trabalhamos, mudar os métodos que usávamos no passado”, declarou Dmitry Medvedev, presidente russo, em um encontro do Conselho de Segurança do país durante o incidente.




Empresas contempladas