• 11 de novembro de 2016
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Organização alerta sobre o uso de antibióticos no salmão

A grande quantidade de antibióticos usados pela indústria do salmão no Chile — de onde vem praticamente a totalidade do que é consumido no Brasil — tem potencial para criar bactérias capazes de resistir a medicamentos de uso comum no tratamento de doenças que afetam os humanos, de acordo com reportagem publicada pela Oceana no país vizinho.

O uso intensivo de antibióticos na criação de salmões tem sido levantado por diferentes fontes. Em 2015, segundo a reportagem, a indústria do salmão do Chile usou 660 gramas do produto por tonelada métrica, enquanto os criadouros da Noruega, primeiro produtor mundial, usaram apenas 0,17g. Mesmo na produção de carne de porco, onde o uso de antibióticos também é intensivo, as cifras são menores. Em 2010, a média mundial foi de 172g por tonelada de carne, segundo estudo citado.

“Trata-se de um problema importante, porque a produção chilena abastece muitos países, inclusive o Brasil. Conforme as informações publicadas, não podemos ter certeza de que estamos consumindo um produto saudável e inofensivo. Além disso, ao consumi-lo, alimentamos uma cadeia danosa ao meio-ambiente e aos oceanos”, diz a diretora geral da Oceana no Brasil, Monica Peres.

Riscos
De acordo com Liesbeth van der Meer, diretora executiva da Oceana no Chile, todos os antibióticos administrados aos salmões são idênticos ou similares em sua composição química aos usados em tratamentos de humanos. A tetraciclina, por exemplo, é usada para combater acne e sífilis. A trimetoprima, em tratamentos de infecções urinárias e respiratórias.

Os riscos para as pessoas são complexos, segundo Marion Nestle, professora do Departamento de Nutrição, Estudos dos Alimentos e Saúde Pública da Universidade de Nova Iorque, citada na reportagem. “Se as bactérias dos peixes desenvolvem resistência aos antibióticos, e as pessoas que entram em contato com os peixes se infectam com bactérias patógenas resistentes aos antibióticos, esses medicamentos não terão nenhuma utilidade na hora de combater a infecção”, diz.

O uso excessivo de antibióticos permite que as bactérias se adaptem, tornando-se mais resistentes aos medicamentos. Estudo de 2012 em fazendas de salmão revelou que 81% das bactérias encontradas nas mostras de sedimento eram resistentes a pelo menos um medicamento, enquanto que 9% delas eram resistentes a todos os antibióticos analisados pelos pesquisadores.

Brasil
A importação de salmão chileno pelo Brasil vem crescendo. Há dez anos, em 2006, entraram no país 12 mil toneladas do produto. Em 2015, foram 75 mil, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Não há salmão nativo no país vizinho. Toda a produção chilena é obtida em criadouros — imensas gaiolas imersas na água do mar. Os peixes são alimentados com ração, na qual são incluídos os antibióticos e pigmentos que dão ao salmão a cor característica. Os exemplares encontrados na natureza têm a coloração típica porque se alimentam de crustáceos. Já os de cativeiro têm coloração cinza.

Além dos problemas sanitários, a criação de salmão em tanques também representa ameaças ecológicas. Há denúncias de fuga de peixes dos tanques. Como espécies exóticas, os salmões que escapam para a natureza prejudicam o equilíbrio da cadeia trófica na costa do Chile. Outra ameaça são os detritos que se depositam abaixo das gaiolas, também carregados de antibióticos e um excesso de nutrientes, que podem provocar uma superprodução de algas tóxicas, entre outros problemas.

Sobre a Oceana – A Oceana foi criada em 2001 para trabalhar exclusivamente na proteção e recuperação dos oceanos em escala global, por meio de campanhas e estudos científicos. A organização já conquistou mais de 100 vitórias para os oceanos ao redor do mundo. A Oceana está presente em sete países e na União Europeia, que, juntos, são responsáveis por mais de 40% da produção de pescado do mundo; ela atua no Brasil desde julho de 2014.

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