Nova Délhi, Índia, 28/1/2013 – Quando a replica watches Índia ingressou na indústria mundial da energia nuclear, há cinco anos, muitos acreditaram que este país encontraria rapidamente o caminho para acabar com sua dependência do cobre e de outros combustíveis fósseis. Afinal, a Índia já tinha em funcionamento 19 reatores atômicos que geravam cerca de quatro mil megawatts (MW) de energia, embora essa atividade desafiasse um embargo internacional liderado pelos Estados Unidos imposto depois que Nova Délhi realizou um teste nuclear em 1974. A negativa da Índia em assinar o Tratado sobre Não Proliferação das Armas Nucleares (TNP), assinado por 189 nações desde 1968, também contribuiu para seu isolamento. Foi necessária uma isenção especial do Grupo de Fornecedores Nucleares, de 47 membros, para que Nova Délhi pudesse participar do comércio nuclear internacional. Com o levantamento dos embargos, o governo indiano projetou uma série de “parques nucleares” que serão construídos por investidores estrangeiros ao longo de sua costa peninsular, o que acrescentará 40 gigawatts de energia até 2020. O governo avança com o projeto apesar da resistência de agricultores e pescadores, que temem pelo seu sustento e forma de vida, do fato de a zona ser vulnerável a movimentos sísmicos e de um recurso legal contra os planos nucleares apresentado por intelectuais à Suprema Corte. “Havia poucas dúvidas de que o plano de construir numerosas usinas atômicas ao longo da costa teria problemas”, disse o cientista M. V. Ramana, do Programa sobre Ciência e Segurança Global, da Universidade de Princeton (EUA). “Devido aos crescentes conflitos sobre os recursos naturais, a oposição às novas usinas nucleares apenas se intensificarão no futuro. A escassez de água, por exemplo, ficará cada vez mais severa ao longo do ano”, disse Ramana à IPS através de e-mail. “Os pescadores já veem seu sustento ameaçado por diversos problemas. os efluentes das plantas industriais e de energia lançados no mar é um deles”, afirmou. Intensos protestos acontecem em Jaitapur, no Estado de Maharashtra, onde a empresa francesa Areva S.A. constrói um parque nuclear com capacidade de gerar 9.900 megawatts, e também em Koodankulam, no Estado de Tamil Nadu, onde está quase concluída uma usina atômica russa. Ramana disse que o deslocamento de pessoas é outro problema. “O tratamento aos afetados por instalações nucleares é menos do que satisfatório”, afirmou. “Para começar, os planejadores devem se dar conta de que o país tem de escolher entre suas ambições e a democracia”, acrescentou. “Os intensos e prolongados protestos em Koodankulam e Jaitapur são um sinal de que todas as outras opções para se fazer ouvir estão bloqueadas”, ressaltou. Vinod Kumar Gaur, um dos principais especialistas em sismologia do país e professor no famoso Instituto Indiano de Astrofísica, na cidade de Bangalore, afirmou que os estudos de risco em Jaitapur estão terrivelmente equivocados. Segundo Gaur, é significativo que a localização do complexo nuclear de Jaitapur, construído para ser o maior do mundo, esteja a apenas 110 quilômetros da represa de Koyna, que sofreu graves rachaduras após ser afetada em 1967 por um terremoto de magnitude 6,4 na escala Richter. Também é importante assinalar, disse Gaur, que em 1524 um grande tsunami atingiu a costa ocidental da Índia, 100 quilômetros ao norte de Jaitapur. A possibilidade de ocorrer outro não foi considerada nos atuais estudos. Gaur disse à IPS que “a confirmação ou refutação através de pesquisas científicas é chave para determinar a segurança sísmica da usina de Jaitapur, e o último terremoto no Japão demonstrou que é relevante considerar todas as possibilidades quando se trata de projetar uma usina de energia nuclear”. acrescentou que “igualmente importante é os resultados das pesquisas científicas serem divulgados, para dessa forma dissipar os temores das pessoas”. Ramana afirmou que é hora de o hermético Departamento de energia Atômica participar de um honesto e transparente debate sobre seus planos, em particular com as pessoas que vivem perto dos locais escolhidos para os projetos. Esse organismo “tem de abandonar posições cientificamente indefensáveis, como suas afirmações de que seus reatores são 100% seguros e de que a probabilidade de um acidente nuclear é zero”, ressaltou. “Instalar um reator afetará o meio ambiente, devido à expulsão de contaminantes radioativos e água quente’, alertou Ramana, lembrando que se “os moradores se negam terminantemente a ter uma usina nuclear em meio a eles, o Departamento deve cancelar a construção das usinas”. O Departamento evitou participar das consultas públicas exigidas pelo Movimento Popular Contra a Energia Nuclear, que lidera a resistência em Koodankulam. “Realizar debates públicos se tornou ainda mais importante depois de Fukushima”, disse S. O. Udayakumar, líder dessa organizações desde 1988. O acidente nessa central nuclear japonesa “ajudou as pessoas a entenderem melhor os perigos”, disse à IPS. “Considerando que a sociedade civil pediu insistentemente um debate público, o primeiro-ministro deve dar um passo e realizar consultas em todo país sobre a importância de uma opção energética tão perigosa e cara”, disse, por sua vez, Karuna Raina, ativista do Greenpeace na Índia. Envolverde/IPS