• 21 de novembro de 2011
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Para as finanças sustentáveis, relações mais humanas

“Quando foi a primeira vez que você se lembra de ter sentido preocupação com outro ser e de ter pensado: ‘Se o outro não é feliz eu também não sou?” Foi com essa pergunta inusitada que Luis Algarra, consultor, abriu a roda de conversa “Finanças Sustentáveis: mecanismos de indução para uma nova economia” ao lado de Denise Nogueira, gerente de sustentabilidade do Itaú Unibanco.

A pergunta que se instaurou entre os participantes em seguida: “Mas qual é a relação entre essa pergunta e o tema finanças?” Respondeu o consultor: “As finanças não passam só pelo mundo do dinheiro. E foi exatamente essa a questão central de onde surgiram desdobramentos enriquecedores.

Ao estabelecer o consenso de que estamos inseridos em um sistema financeiro cujo modelo está se esgotando e que esse mesmo sistema é feito a partir de relações entre as pessoas, chegou-se ‘a conclusão de que, mudando essas relações e fundamentando-as em valores como a cooperação e a empatia, estaremos transformando a lógica atual de mercado.

A dinâmica proposta foi a de compartilhamento de respostas entre o grupo, estimulando que histórias inspiradoras emergissem. Gente que passou a enxergar o outro ainda criança, ao dar de presente para uma outra criança, carente, a boneca que mais gostava; um outro que, aos cinco anos, fez o parto de cinco gatinhos; histórias de doação ao outro, como a de quem se dedica a cozinhar para fazer mais feliz a vida de quem passa por um tratamento de desintoxicação.

“Aqui as histórias de vida tem vez e voz”, disse Algarra. “Se temos dentro de nós o sentimento do cuidado, por que temos um sistema que não representa esse respeito ao outro, um sistema que continua explorando e que, paradoxalmente, é feito por pessoas também?”

Reinaldo Canto, jornalista, reforçou a provocação: “A gente fica com a impressão de que o mercado é um ser demoníaco. Todo o tempo ouvimos que o mercado quer isso, o mercado está inseguro, quer ir naquela direção, como se fosse uma entidade anônima e não fosse feita por pessoas como nós”.

Para Marcio Avilez, aluno de Gestão Ambiental da USP, a dificuldade está em transformar a percepção desses profissionais inseridos no universo das finanças e dos investimentos. Dar valor ao que realmente tem valor. O ouro, por exemplo. “Que diferença faz para a maioria da humanidade ter toneladas de ouro trancafiadas no United States Bullion Depository, o depósito de ouro dos Estados Unidos, em Fort Knox? Nós não temos a necessidade de continuar explorando ouro, devastando montanhas e rios para depois guardá-los em cofres. A rigor, esse metal não nos serve para suprir necessidades básicas como a alimentação”, disse, causando burburinho e inquietação. “Será que não temos outra forma de lastro?”, completou Marcus Colacino, palestrante que minutos antes havia realizado uma oficina sobre o TEDx.

Saídas possíveis

Na outra ponta desse comportamento, soluções como o comércio justo e o microcrédito foram apontadas como viáveis na busca dessas “novas finanças”. Denise Nogueira, do Itaú Unibanco, acredita que a construção desses novos fluxos comerciais, de benefício para toda cadeia, tem a capacidade de quebrar paradigmas atuais. “O comércio justo pode passar a refletir a sociedade que queremos e não a sociedade de mercado”, disse.

“A sociedade tem que evoluir junto com a evolução do conceito de barganha. A nossa maneira de lidar com o dinheiro hoje não inclui o outro na história – ‘o que é meu é meu, o seu é seu’ – não pensamos no coletivo. Se somos seres cooperativos, não acredito que o sistema funcionará se continuar assim”, enfatizou Algarra.

Nesse clima de reflexões, de mais perguntas do que respostas e de intensa interação entre o grupo, Luis e Denise esclareceram que o encontro foi o primeiro de uma série que estarão sendo realizados pelo Itaú na busca por caminhos que possam nortear as ações da instituição daqui para frente.

“Mais do que isso, queremos que vocês saiam daqui pensando, desejando produzir algo novo, discutir com suas famílias, com seus parceiros de negócios, para fazer do tema finanças sustentáveis uma conversa do dia-a-dia”, finalizou Denise.

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