• 08 de janeiro de 2018
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Perda de oxigênio no oceano quadruplicou em 50 anos

Mudança foi acelerada pelo aquecimento global, alertam pesquisadores; principais eventos de extinção na história estão associados a climas quentes e oceanos com deficiência de oxigênio



 O nível de oxigênio do oceano aberto e das águas costeiras tem diminuído drasticamente durante os últimos 50 anos, revela um estudo publicado nesta quinta-feira na revista científica Science. O oceano aberto já perdeu cerca de 2% de seus níveis médios de oxigênio, o que significa 77 bilhões de toneladas a menos do gás. As regiões de baixa oxigenação expandiram-se consideravelmente e já equivalem a uma área do tamanho da União Europeia. O volume de oceano completamente desprovido de oxigênio mais que quadruplicou no período e cerca de 500 áreas próximas à costa apresentaram concentrações de oxigênio muito baixas.



O oxigênio está em declínio em águas abertas e em regiões costeiras como resultado do aquecimento global e da poluição despejada pelos rios e esgotos. O aumento da temperatura do oceano reduz a taxa de solubilidade do oxigênio e acelera o consumo de oxigênio dos seres marinhos e a decomposição de material sólido.



“Podemos esperar impactos irreversíveis na biodiversidade, na produtividade dos peixes e nos ciclos biogeoquímicos”, diz a ecóloga marinha Denise Breitburg, do Centro Smothsonian de Pesquisa Ambiental (EUA) e autora principal do estudo. De acordo com ela, se considerarmos o ritmo atual de aquecimento do planeta, o nível de oxigênio do oceano deve cair ainda mais nos próximos anos, especialmente em regiões costeiras, oceanos tropicais e na faixa que vai do nordeste do Pacífico ao Atlântico Norte.



Em regiões próximas ao continente, os altos níveis de resíduos humanos e agrícolas não tratados intensificam ainda mais a perda de oxigênio do oceano. As descargas de nitrogênio dos rios que desaguam no mar aumentaram 43% de 1970 a 2000, com três vezes mais nitrogênio derivado da agricultura do que o esgoto. Alterações desse tipo podem ser vistas em diversas regiões do Brasil, como da Baía de Vitória, na Baía de Guanabara, na Lagoa de Saquarema e na Lagoa de Rodrigo de Freitas (RJ).



Significa que as alterações na produtividade e na manutenção das espécies virão em larga escala. A falta de oxigênio pode reduzir a taxa de sobrevivência dos peixes, alterar o crescimento e a reprodução de seres marinhos e a produção hormonal de algumas espécies. Em muitos casos, pode aumentar a probabilidade a doenças e a vulnerabilidade à predação, uma vez que boa parte dos seres marinhos ficam restritos a águas superficiais e de melhor iluminação.



A desoxigenação também está ligada à acidificação do oceano, já que o aumento da temperatura eleva a demanda por oxigênio ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de gás carbônico. Desde a primeira revolução industrial, a acidez dos oceanos aumentou em 30%. Estudos apontam que a acidificação dos oceanos afeta diretamente a frequência de mariscos, moluscos, algas, corais e plânctons.



Enfrentar as mudanças climáticas é a maneira mais eficiente de restaurar o oxigênio dos oceanos, garantir a segurança alimentar e proteger o habitat de inúmeras espécies, segundo Breitburg. “A desoxigenação do oceano é uma das mudanças mais importantes que ocorreram nos ecossistemas marinhos no último século. Os principais eventos de extinção na história da Terra estão associados a climas quentes e oceanos com deficiência de oxigênio. Se quisermos manter as condições dos oceanos próximas às atuais, precisamos conter a emissão de gases de efeito estufa”, afirma.


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