Pode ser que o apocalipse seja um pouco adiado
A mudança climática pode estar acontecendo mais lentamente do que avaliam os cientistas, mas o mundo ainda precisa enfrentar a questão.
Uma morsa que circule pelo Ártico no verão pode se perguntar para onde foi todo o gelo marinho da região, mas alguns cientistas argumentam que a mudança climática causada pelo homem não é uma ameaça tão grave quanto a que era anunciada há alguns anos. Eles apontam para diversas razões que fundamentam a opinião de que a “sensitividade climática” do planeta – a quantidade de aquecimento que se espera ser consequências de um aumento de 100% do nível de dióxido de carbono – pode não ser tão alta quanto se pensava anteriormente. A razão mais óbvia é que, apesar de um aquecimento pronunciado ao longo do século XX, as temperaturas não aumentaram de fato nos últimos dez anos.
Não está claro por que a mudança climática se estabilizou. Isso pode se dever a uma maior variabilidade natural do clima, porque as nuvens amenizam o aquecimento ou por causa de algum outro mecanismo pouco compreendido do sistema climático. Mas, seja lá qual for a razão, alguns dos cenários realmente aterradores – em que a temperatura do planeta sobe 4° C ou mais neste século – estão ficando cada vez menos prováveis. Isso quer dizer que o mundo não precisa se preocupar mais?
Não, por duas razões. A primeira é a incerteza. O conhecimento científico que aponta para uma sensitividade mais baixa que os modelos anteriores haviam previsto ainda não é definitivo. O risco de aquecimento severo – um aquecimento de 3° C, por exemplo – embora menor, ainda é uma ameaça real.
A segunda razão é mais prática. Se o mundo houvesse baseado suas políticas climáticas em predições anteriores de uma sensitividade alta, então seria o caso de afrouxar essas políticas agora que as mudanças mais catastróficas parecem menos prováveis. Mas embora a retórica do clima tenha sido baseada em temores de uma sensitividade alta, a política climática não o foi. As emissões de dióxido de carbono industriais aumentaram em 50% desde 1997.
* Adaptado e traduzido da Economist por Eduardo Sá
** Publicado originalmente na revista The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.